
Rosa Salete Alba apropriou-se de Chapecó, através da única forma que os seres humanos se apropriam diferentemente dos demais animais: pelo pensamento. Para alcançar este cume necessitou de muito trabalho árduo, longo, sistemático, disciplinado e persistente. Ação que se ficou em obra científica.
Chapecó como artefato do pensamento virou livro e por ele ampliou-se, modernizou-se, fez-se história, transmutou-se em cultura. O texto relata os passos da produção do espaço urbano de Chapecó, assim como mais uma rua larga que se abre nas entranhas do fazer-se por luta e sonhos.
Rua larga das lutas políticas, eivada de contradições entre os antigos e novos habitantes, e entre os próprios recém-chegados. Refúgio pré-colombiano devastado pelas madeireiras e pela agricultura familiar.
Depois a agroindústria de produção de suínos e aves impôs à população do lugar a modernização conservadora da agricultura. Reproduzir-se somente era possível através do nexo com o capital que se ampliava. Novas empresas emergiam e se multiplicavam: transportadoras, bancos, hotéis, casas comerciais, indústrias de máquinas e de embalagem etc.
As residências ocupavam os espaços cada vez mais espraiados, constituindo uma nova fisionomia à cidade, principalmente com bairros de população oriunda da agricultura, até chegar ao espaço degenerado, a favela.
A sociedade se estruturava por meio das três instâncias do governo: federal, estadual e municipal. Os sindicatos e as cooperativas de assalariados e de empregadores também se iam constituindo. A importância da ação política permitia o destaque de políticos profissionais na cidade e no estado.
O progresso da cidade se expressava nas pesquisas e nas tecnologias que se difundiam no setor produtivo da economia. Na cidade se instalaram vários órgãos de apoio aos negócios: Acaresc, Embrapa, Empasc, Emater, Epagri, CPPP, Cidasc, Secretaria do Negócio do Oeste. Muitas empresas se destacaram e são líderes no campo de suas respectivas atuações, entre elas aparecem a Ceval, a Sadia e a Alfa, exportando e importando riqueza.
Mas se Chapecó expressa a pujança da produção da riqueza material, também explicita o sofrimento de uma parcela da população que não consegue mais produzir a sua existência, nem mesmo dentro das normas preestabelecidas. Os espaços da miséria se multiplicam, assim como as lutas por condições de vida mais digna. Políticas públicas e ações da própria população buscam novos caminhos para a convivência social diferente. Chapecó transforma-se em um espaço privilegiado da superação das contradições sociais.
