A História Ou A Leitura Do Tempo

Este ensaio reflete sobre as interrogações que permeiam, hoje em dia, a escritura da história. A partir dos anos 1970 e das obras de Paul Veyne, Hayde White e Michel de Certeau, os historiadores discutiram duas questões essenciais:

de um lado, a tensão entre a forma retórica e narrativa da história, partilhada com a ficção, e seu estatuto de conhecimento comprovado; de outro, a relação entre o lugar social em que a história como saber se produz (agora a universidade, anteriormente a cidade antiga, o mosteiro, as cortes, as academias) e a seus temas, técnicas e retórica. Recordando e deslocando essas questões clássicas, este ensaio destaca três problemas mais recentes: 1) A concorrência para a representação do passado entre história, literatura e memória; 2) As possibilidades e os efeitos da comunicação e da publicação eletrônicas sobre a investigação e a escritura históricas; 3) A construção da relação entre as experiências do tempo e a construção do relato histórico.

Talvez seja conveniente recordar as duas perguntas formuladas nesse texto a fim de compreender melhor a novidade das questões que habitam em nosso presente. A primeira derivava diretamente da evidenciação das dimensões retórica e narrativa da história, designadas com perspicácia em três obras fundacionais publicadas entre 1971 e 1975: Comment on écrit l’histoire (Como se escreve a história), de Paul Veyne (1971), Metahistory (Meta-história), de Hayden White (1973), e L’Écriture de l’Histoire (A escrita da história), de Michel de Certeau (1975). Veyne (1971), ao afirmar que a história “é, antes de tudo, um relato e o que se denomina explicação não é mais que a maneira de a narração se organizar em uma trama compreensível”, Hayden White (1973), ao identificar “as formas estruturais profundas da imaginação histórica” com as quatro figuras da retórica e da poesia clássica, ou seja, a metáfora, a metonímia, a sinédoque e a ironia, e de Certeau (1975), ao afirmar que “o discurso histórico pretende dar um conteúdo verdadeiro (que vem da verificabilidade), mas sob forma de uma narração”, obrigavam os historiadores a abandonar a certeza de uma coincidência total entre o passado tal como foi e a explicação histórica que o sustenta.

Links para Download

Link Quebrado?

Caso o link não esteja funcionando comente abaixo e tentaremos localizar um novo link para este livro.

Deixe seu comentário

Mais Lidos

Blog

A História Ou A Leitura Do Tempo

Este ensaio reflete sobre as interrogações que permeiam, hoje em dia, a escritura da história. A partir dos anos 1970 e das obras de Paul Veyne, Hayde White e Michel de Certeau, os historiadores discutiram duas questões essenciais: de um lado, a tensão entre a forma retórica e narrativa da história, partilhada com a ficção, e seu estatuto de conhecimento comprovado; de outro, a relação entre o lugar social em que a história como saber se produz (agora a universidade, anteriormente a cidade antiga, o mosteiro, as cortes, as academias) e a seus temas, técnicas e retórica. Recordando e deslocando essas questões clássicas, este ensaio destaca três problemas mais recentes: 1) A concorrência para a representação do passado entre história, literatura e memória; 2) As possibilidades e os efeitos da comunicação e da publicação eletrônicas sobre a investigação e a escritura históricas; 3) A construção da relação entre as experiências do tempo e a construção do relato histórico.

Talvez seja conveniente recordar as duas perguntas formuladas nesse texto a fim de compreender melhor a novidade das questões que habitam em nosso presente. A primeira derivava diretamente da evidenciação das dimensões retórica e narrativa da história, designadas com perspicácia em três obras fundacionais publicadas entre 1971 e 1975: Comment on écrit l’histoire (Como se escreve a história), de Paul Veyne (1971), Metahistory (Meta-história), de Hayden White (1973), e L’Écriture de l’Histoire (A escrita da história), de Michel de Certeau (1975). Veyne (1971), ao afirmar que a história “é, antes de tudo, um relato e o que se denomina explicação não é mais que a maneira de a narração se organizar em uma trama compreensível”, Hayden White (1973), ao identificar “as formas estruturais profundas da imaginação histórica” com as quatro figuras da retórica e da poesia clássica, ou seja, a metáfora, a metonímia, a sinédoque e a ironia, e de Certeau (1975), ao afirmar que “o discurso histórico pretende dar um conteúdo verdadeiro (que vem da verificabilidade), mas sob forma de uma narração”, obrigavam os historiadores a abandonar a certeza de uma coincidência total entre o passado tal como foi e a explicação histórica que o sustenta.

Link Quebrado?

Caso o link não esteja funcionando comente abaixo e tentaremos localizar um novo link para este livro.

Deixe seu comentário

Pesquisar

Mais Lidos

Blog