Este livro narra os bastidores da longa e exaustiva crise político-econômica que derrubou a presidente Dilma Rousseff. A sorte me levou a Brasília em abril de 2015, 13 meses antes de ela ser afastada pelo Congresso para enfrentar um processo de impeachment.
Até setembro daquele ano, fui assessor de imprensa do então ministro da Fazenda, Joaquim Levy. A partir dali, a convite da presidente e do ministro Edinho Silva, da Secretaria de Comunicação Social, virei secretário de Imprensa da Presidência. Mais uma generosidade do acaso.
Desembarquei no Palácio do Planalto com um pedido de impeachment batendo à porta de Dilma, tornando a missão tão inglória quanto desafiadora: na minha vaidade e ilusão, senti-me como parte de um pacote de solução de crise.
E que crise. Ao longo daqueles meses, entre a Esplanada e o Palácio, o governo viveu e padeceu sob a versão brasileira das dez pragas do Egito. Listei: inflação de dois dígitos, desemprego também de dois dígitos, recessão econômica, o mar de lama deixado pelo rompimento da barragem de Mariana, em Minas Gerais, o vírus zika, a Operação Lava Jato, a delação premiada do senador Delcídio do Amaral, preso no exercício do mandato, a polêmica sobre a compra da refinaria de Pasadena, a ação no Tribunal Superior Eleitoral, que pedia a cassação da chapa Dilma-Temer, e o processo de impeachment no Congresso.
São dez, mas pode ter sido mais, como o episódio envolvendo o então presidente interino da Câmara, o deputado maranhense Waldir Maranhão, numa derradeira, desesperada e atrapalhada tentativa de barrar o processo de impeachment no Congresso.
Ou pragas como o deputado Eduardo Cunha – o homem das contas na Suíça que conduziu o processo na Câmara -, uma oposição que já pensava no impeachment uma semana depois de perder a eleição e um vice-presidente que trabalhou durante meses em favor da derrubada de Dilma: Michel Temer, o “capitão do golpe”, na definição saborosa do ex-ministro Ciro Gomes.