Nos últimos quinze anos, a história da historiografia brasileira conheceu grandes avanços e consolidou-se como campo de investigação fecundo. Neste número da Revista Do Instituto Histórico E Geográfico Brasileiro, a seção Artigos e Ensaios apresenta um balanço panorâmico desse movimento renovador, produzido por Maria da Glória de Oliveira e Rebeca Gontijo.
As autoras apontam os fatores que contribuíram para a emergência de uma reflexão historiográfica nos anos 1970, bem como discutem os novos modelos de pesquisa que possibilitaram a reconfiguração do campo, a partir do final da década de 1980.
O segmento Artigos e Ensaios traz mais seis inéditos, a começar pela análise de André Heráclio do Rêgo sobre os chamados “caminhos do sertão”. Ele demonstra como o processo de conquista do território e o seu povoamento ajudaram a implantar a soberania portuguesa seja nos sertões americanos, seja nos sertões de África.
Por sua vez, a instigante contribuição de Marina Garcia de Oliveira e Monica Duarte Dantas examina as estratégias políticas empregadas por D. Pedro I na formação do Legislativo brasileiro, em especial, na composição do Senado imperial, cujos membros eram vitalícios.
Ainda no âmbito da história política, David F. L. Gomes oferece um alentado ensaio sobre a história dos conceitos de república e de soberania no Brasil antes da proclamação de 1889, tomando como exemplo paradigmático os escritos de Frei Caneca.
Já a colaboração de Francisco Donadio Baptista – um exercício de micro-história – contempla a prática dos banhos de mar no Rio de Janeiro no século XIX, iniciada pelos membros da familia real portuguesa (D. João e D. Carlota Joaquina) e, depois da independência, cultivada pelos membros da família imperial.
O artigo de Ana Paula Sampaio Caldeira tem como objeto a figura do médico Benjamin Franklin de Ramiz Galvão. Ela aborda a atuação de Ramiz no cenário intelectual do Segundo Reinado e depois o papel proeminente que desempenhou no Instituto Histórico já no período republicano ao lado de Max Fleiuss e do conde de Afonso Celso, devassando as memórias de Ramiz construídas no IHGB, no seu entender, um espírito republicano em plena monarquia.
A seção se encerra com o ensaio da dupla Maria das Graças Salgado e Eduardo Silva, que joga luz sobre a presença do escritor austríaco Stefan Zweig e sua esposa alemã Lotte no Brasil, centrando o foco no processo de adaptação do casal Zweig às particularidades do idioma de Camões, no “país do futuro”.