Tendo como ponto de partida o Encontro Internacional No Performance’s Land? realizado em Portugal que juntou 23 investigadores e 14 performers de vários países, pretendemos agora reunir em livro as inquietações e as reflexões teórico-conceptuais que nesse mesmo evento emergiram.
Singular no panorama científico e artístico e no quadro das ciências sociais, nomeadamente da Antropologia, este encontro foi claramente um espaço de experimentação e de exploração conceptual, mas também de convergência de diversas propostas perfomativas de criadores de várias nacionalidades cujos enfoques claramente se complementaram na diversidade.
O desafio maior foi, talvez, o de reunir as contribuições teóricas dos investigadores em cruzamento e interseção propositada com os contributos dos performers. Com o leitor ficará a responsabilidade e, esperamos, o prazer de amplificar e articular esses cruzamentos.
No Performance’s Land? é simultaneamente uma interrogação e um paradoxo feito de um jogo de palavras. Explorando limites e fronteiras para uma ontologia da performance e para uma conceptualização do seu campo disciplinar nas artes e nas ciências sociais, o que se pretendeu foi interrogar o lugar da performance na contemporaneidade. Terra de ninguém?
De facto, a performance tem sido um conceito que fugiu a uma focagem definitiva. Difusamente interterritorial e transdisciplinar, ela se consubstancia hoje como um objeto reflexivo controverso, perenemente polémico, e como um prolixo gerador de metáforas para a experiência humana.
Tantas vezes, simultaneamente, intraduzível e intercomutável entre campos disciplinares, a performance incorpora e naturaliza uma relação epidérmica com a chamada falência das grandes narrativas contemporâneas.
Nas artes – teatrais, plásticas e visuais –, depois de todo um século de confrontos e contra-discursos, a performance, reemerge no século XXI como um poderoso vocabulário e dispositivo rizomático de fusão, hibridismo, virtualidade, mediação e reflexividade da vida humana, sobretudo pelo potencial cibernético e digital das experiências mais recentes.
Paralelamente, nas ciências sociais passou por ser inicialmente um “conhecimento subjugado”, para usar a metáfora epistemológica de Foucault, tornado corpo ativo de significados, fora dos livros, iludindo ou sucumbindo às estratégias de inscrição que o tentaram tornar legível/inteligível e, portanto, um saber cientifico legítimo.
Porém, ela emerge no presente como um conhecimento plasmado na materialidade contemporânea, um blurred genre deslizante, líquido, global, que atravessa fronteiras e reforça linguagens transversalmente em diversos domínios.