Distraídos Venceremos

Última obra poética publicada em vida, Distraídos venceremos foi lançado em 1987 e rapidamente se tornou um clássico contemporâneo.
Para a poeta Alice Ruiz - a quem o livro é dedicado -, embora o título desta seleta escrita ao longo de quatro anos remeta ao livro anterior, Caprichos e relaxos, "o teor dos poemas aponta para um maior ceticismo".


Estão aqui a experimentação, a coloquialidade e o constante diálogo com as poesias concreta e marginal, além do flerte com a cultura oriental, que marca a parte final do volume.
Incluído em Toda poesia, Distraídos venceremos traz Leminski em sua melhor forma: "Tudo o que eu faço/ alguém em mim que eu desprezo/ sempre acha o máximo./ Mal rabisco,/ não dá mais pra mudar nada./ Já é um clássico".

Nas unidades de Distraídos Venceremos (1983-1987), resultado do impacto da poesia de Caprichos e Relaxos (1983) sobre a fina e grossa cútis da minha sensibilidade lírica, calmes blocs ici-bas chus d'un désastre obscur, cadeias de Markoff em direção a uma frase absoluta, arrisco crer ter atingido um horizonte longamente almejado: a abolição (não da realidade, evidentemente) da referência, através da rarefação.
Seria demais, certamente, supor que eu não precise mais da realidade.
Seria de menos, todavia, suspeitar sequer que a realidade, essa velha senhora, possa ser a verdadeira mãe destes dizeres tão calares.
É quando a vida vase.
É quando como quase.
Ou não, quem sabe.
Curitiba, janeiro de 1987

AVISO AOS NÁUFRAGOS
Esta página, por exemplo,
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho,
muito depois de caída.
Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda, Antártida,
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.
Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta página, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom-dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,
vai ter que ser a brusca pedra
onde alguém deixou cair o vidro.
Mão é assim que é a vida?

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Última obra poética publicada em vida, Distraídos venceremos foi lançado em 1987 e rapidamente se tornou um clássico contemporâneo.
Para a poeta Alice Ruiz – a quem o livro é dedicado -, embora o título desta seleta escrita ao longo de quatro anos remeta ao livro anterior, Caprichos e relaxos, “o teor dos poemas aponta para um maior ceticismo”.
Estão aqui a experimentação, a coloquialidade e o constante diálogo com as poesias concreta e marginal, além do flerte com a cultura oriental, que marca a parte final do volume.
Incluído em Toda poesia, Distraídos venceremos traz Leminski em sua melhor forma: “Tudo o que eu faço/ alguém em mim que eu desprezo/ sempre acha o máximo./ Mal rabisco,/ não dá mais pra mudar nada./ Já é um clássico”.

Nas unidades de Distraídos Venceremos (1983-1987), resultado do impacto da poesia de Caprichos e Relaxos (1983) sobre a fina e grossa cútis da minha sensibilidade lírica, calmes blocs ici-bas chus d’un désastre obscur, cadeias de Markoff em direção a uma frase absoluta, arrisco crer ter atingido um horizonte longamente almejado: a abolição (não da realidade, evidentemente) da referência, através da rarefação.
Seria demais, certamente, supor que eu não precise mais da realidade.
Seria de menos, todavia, suspeitar sequer que a realidade, essa velha senhora, possa ser a verdadeira mãe destes dizeres tão calares.
É quando a vida vase.
É quando como quase.
Ou não, quem sabe.
Curitiba, janeiro de 1987

AVISO AOS NÁUFRAGOS
Esta página, por exemplo,
não nasceu para ser lida.
Nasceu para ser pálida,
um mero plágio da Ilíada,
alguma coisa que cala,
folha que volta pro galho,
muito depois de caída.
Nasceu para ser praia,
quem sabe Andrômeda, Antártida,
Himalaia, sílaba sentida,
nasceu para ser última
a que não nasceu ainda.
Palavras trazidas de longe
pelas águas do Nilo,
um dia, esta página, papiro,
vai ter que ser traduzida,
para o símbolo, para o sânscrito,
para todos os dialetos da Índia,
vai ter que dizer bom-dia
ao que só se diz ao pé do ouvido,
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