Nos textos enfeixados em Literatura Como Lugar: Arte, Memória, Identidade, o leitor encontrará alguns exemplos de exercícios de análise, no interior dos quais arriscam-se investidas teóricas e, implicitamente, práticas metodológicas. Estão presentes, também, o reconhecimento e a possibilidade de interação entre diversos saberes, demonstrando a abertura de seus autores para preocupações de ordem ética.
Diante das desrazões do esclarecimento, os estudos literários, por caminhos bifurcados e descontínuos, têm voltado seu olhar para literaturas nascentes ou para vertentes que a tradição acadêmica afastou de si: a vida das pessoas de carne e osso, sujeitos sociais vítimas da marginalização institucionalizada.
Nesse contexto, valorizam-se abordagens interessadas em matrizes culturais diversas, portadoras de forças e belezas particulares, tratadas por vozes que estejam também fora da tradição acadêmica, refém e serva de um ideário eurocêntrico e colonizador.
O objetivo é exercitar a reflexão crítico-teórica, especialmente dos discentes de cursos de pós-graduação, tendo sempre em vista as pesquisa por eles desenvolvidas. Literatura Como Lugar, enfim, reúne estudos que põem em prática as diversas possibilidades de diálogo entre a literatura, entendida como suporte peculiar, e outros saberes e objetos.
Estão presentes estudos que colocam em evidência as diversas possibilidades de diálogo entre a urdidura literária e outros tipos de trama, como os processos de organização da memória, de construção do imaginário, de construção identitária e de questionamento da própria literatura ao interagir com outros sistemas semióticos.
Contempla, também, uma reflexão sobre a prática da tradução e do relato histórico. Em todos os casos, toma-se o objeto de estudo por uma perspectiva bem definida: o texto literário é suprassintoma de alguma coisa que não se revela apenas nele, mas que sem ele não se revelaria.
Por isso, é mais que sintoma, é uma sintonia entre forma e conteúdo, entre realidade e invenção. Por isso, é escritura. E, seja como produto, seja como produção, deve ser entendido como fatura de uma invenção, de um movimento criativo que se serve da linguagem não só para retratar a realidade, mas também – e decisivamente – para acrescentar à realidade algo que antes não se conhecia. É da natureza da literatura transformar eventos concretos, referências, em fatos de linguagem, transfigurando-os em símbolos puros.