A modernidade pode ser vista tanto como uma ruptura como quanto uma nova promessa. Em toda sua flexibilidade e nas suas diferentes figuras e momentos, o que se legou como promessa (e como justificativa de ruptura) foi a liberdade e a autonomia. A ruptura com um sistema hierárquico, estático e fundacionalista ocorre justamente no campo do seu fundamento: a religião e a autoridade. Como todo movimento de transformação, a modernidade acaba por envolver suas novidades em contradições com o modelo de mundo em que estava inserido seu surgimento, tornando contradições expostas – tanto as contradições que já estavam ali, quanto as que surgem com as concepções do novo modelo, então emergente.
Os primeiros traços da modernidade surgem, assim, como invasores incomodativos. De um lado, a inevitabilidade da sua presença e a impossibilidade de sua negação faz com que tenha que se acomodar por ali. De outro, sua permanência não ocorre sem conflitos e
negociações. E nestas negociações se encontra a possibilidade de deixar ali a novidade de uma nova existência junto com a manutenção do tradicional. O velho se incorpora no novo, um corroendo e transformando o outro de maneira que o que viria a ser descartado não o pode simplesmente sê-lo sem negociação – e esta negociação se resolve, transformando ambos os lados, de acordo com que são saciadas as necessidades pragmáticas e de poder. Neste sentido que podemos compreender as transformações dos elementos modernos e sua configuração diante da manutenção de certos elementos conservadores.
Desta forma, novos modelos científicos, novos conceitos e supostas “descobertas” não surgem, ao menos inicialmente, com a intenção de transformar o estado de coisas geral, seja político, existencial ou teórico. A modernidade não surge como metafísica e sistema
preparado e acabado, mas lança suas fagulhas espontâneas.
O fato de o homem ser posto em novo lugar, ou que descobertas astronômicas, físicas e fisiológicas tenham desde seu surgimento ou início de investigação gerado conflitos, não significa que tivessem a intenção de contradizer elementos já aí, ou dogmas dominantes. Com ou sem intenção, a contradição aparece e se faz ver, transformando o que até então era tomado como mera afirmação em uma questão.
Lógicas De Transformação: Críticas Da Democracia
- Ciências Sociais, Filosofia
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