A História Antiga é um campo do conhecimento sobre o passado cuja menção desperta simultaneamente as sensações de familiaridade e de exotismo.
Essas sensações simultâneas e um tanto paradoxais são resultado das relações também paradoxais que nossa cultura estabelece com esse passado.
Essas relações põem em jogo, entre a familiaridade e o exotismo, as linhas constitutivas da identidade com a qual rotulamos essa cultura e cada tentativa de definição dela gera ou derruba uma nova fronteira entre nós e o passado.
São fronteiras que tornam o familiar em exótico e vice-versa e, assim, dependendo de onde colocamos as fronteiras, uma cultura brasileira, cristã, ocidental ou latino-americana, os paradoxos ficam mais ou menos explícitos.
Fronteiras Mediterrânicas é resultado da produção de um grupo particular de estudiosos do mundo antigo. É um conjunto de artigos que fornece um retrato instantâneo das pesquisas que são realizadas no Laboratório de Estudos sobre o Império Romano e Mediterrâneo Antigo (LEIR-MA).
Os trabalhos que se seguem vão provavelmente despertar no leitor o efeito anteriormente mencionado. A familiaridade e o exotismo que o contato com o estudo da Antiguidade despertam são inescapáveis, principalmente quando esse estudo busca problematizar a relação com o passado.
Isto é, quando tem como objetivo desnaturalizar essa relação deslocando e subvertendo a ideia de uma Antiguidade como herança cultural pura e simplesmente. Para isso, contudo, não basta a crítica à ideologia da “Herança Ocidental”.
É necessário trabalho de investigação empírica dos vestígios da Antiguidade, assim como a organização de programas de pesquisa e constante reflexão sobre modelos teóricos, os objetos e problemas de pesquisa.
Os trabalhos aqui, com diversas abordagens, contribuem para a criação de uma relação mais complexa do nosso presente (ao menos o presente localizado nos estudos acadêmicos no contexto do nosso laboratório e na interação com nossos leitores) com essa Antiguidade mediterrânica.