O interesse pela relação entre ética e estética surgiu-me ao realizar uma pesquisa sobre ética, em decorrência do próprio enfrentamento teórico e das perguntas que abriram um novo horizonte interpretativo. Essa investigação tinha por finalidade compreender como se legitima a educação quando o universalismo ético do iluminismo, que sustentou a educação moderna, vê-se dissolvido em sua base de justificação, produzindo novas realidades e uma pluralidade de perspectivas orientadoras do agir humano. Ao tratar da pluralidade na ética, a estética se interpôs pela sua possibilidade de transcender as fronteiras racionais, criando formas de sensibilidade e experiências de subjetividade que exigem novos modos de tratamento ético. O tema apresentou-se em todo seu fascínio e sinalizou uma perspectiva produtiva para a interpretação de um possível relacionamento entre ética e estética. Deve-se notar, contudo, que essa relação tem, no seu desenvolvimento histórico, um caráter paradoxal, pois a estética aparece no início do pensamento como algo oposto à ética.
Em Platão, o mundo sensível não produz o verdadeiro conhecimento, ao contrário, a eikasía é o primeiro grau do conhecimento e se refere a uma cópia ou simulacro da coisa sensível. Nesse sentido, a arte oculta o verdadeiro, produz uma espécie de ilusão e não pode melhorar o homem, o que leva Platão a considerar inadequado deixar com os poetas a responsabilidade pela educação. Até o século XIX, a estética fica associada ao culto da aparência, à superficialidade, o que provoca reprovação da moral burguesa. A partir dos esforços teóricos de Kant e Schiller, torna-se possível pensar a estética como um modo de sensibilidade para a vida moral.
Tendo, então, como referência o contexto filosófico e cultural em que a estética é compreendida em suas possibilidades de produzir representações sensíveis de moralidade, minhas preocupações teóricas centraram-se em perquirir a produtividade da estética para a vida moral, sem cair em posições irracionalistas, tampouco sem referendar a oposição entre relativismo estético e universalismo ético. A presente investigação parte do reconhecimento de que a ruptura da unidade da razão e a decorrente emergência da pluralidade de orientações valorativas, dos diferentes estilos de vida e da subjetividade descentrada fazem sobressair a estética diante da ética, dando visibilidade às relações que foram quase esquecidas.
Ética E Estética
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