
Um Vento Sagrado trata da personalidade do babalaô Agenor Miranda Rocha, uma das figuras da maior importância nas nações de candomblé. Nele depositavam total confiança as veneráveis e inesquecíveis Mãe Menininha do Gantois e Mãe Senhora.
Profundo conhecedor dos segredos de Ifá, ele jogou os búzios de adivinhação para a escolha de várias mães de santo, entre as quais Stella de Oxóssi, do Axé Opô Afonjá e Tatá, do Engenho Velho.
Um Vento Sagrado apresenta-se como a “História de vida de um adivinho da tradição nagô-kêtu brasileira”. Tratando da vida de um homem de estrutura incomum, passa imediatamente a ter um significado especial na história do pensamento religioso brasileiro, nascido do sincretismo.
O resultado é um texto que não pretende ensinar nada a ninguém, nem “revelar” coisas do candomblé, mas produzir uma imagem de “microrrelação social”, em que atos individuais de algum modo espelhem a totalização de um sistema sociocultural. É um texto breve, mas foi de elaboração lenta, porque no universo do candomblé, mesmo quando a comunicação é consentida, fala-se pouco.
A comunidade litúrgica brasileira herdou também da africana essa inclinação ao silêncio como virtude fundamental, essa disposição ao reconhecimento de que a linguagem mora no silêncio.
Quando nos deparamos com um longo palavreado ou compactos volumes sobre o sistema simbólico nagô-kêtu, já podemos dizer com antecipação que se trata da Academia oficial com seus conceitos e falas intermináveis.
Habituados às pausas e ao silêncio estudado dos terreiros, realizamos mais de dois anos de visitas semanais à casa do professor Agenor, entremeando as conversas decorrentes de já antigo relacionamento pessoal e litúrgico com os propósitos deste trabalho.
Tudo isso invariavelmente pontuado pelo café ou chá com pães e queijo, por volta das quatro da tarde, um quase-rito na morada do oluô. A comunicação que agora fazemos em forma de livro é uma visão esmaecida da vigorosa convivência que sempre mantivemos.
