Sobre A Vaidade

Sobre A Vaidade, um dos mais belos textos da literatura, é também o menos pretensioso. Se é uma obra-prima, isso se deve um pouco ao acaso, ou melhor, a essa necessidade imprevisível a que hoje damos o nome de gênio e que outra coisa não é

, em se tratando de Montaigne, senão o próprio Montaigne, com seu gosto extremo pela verdade, com o desprezo pelo artifício e com a liberdade sem igual de atitude e tom.
Nosso ensaio, pois, chama-se Sobre a vaidade. Não se deve esperar um tratado segundo as formas habituais, que analise ou discuta essa noção . Somos tentados a dizer que nele se fala de tudo, até - mas não só nem sobretudo - da vaidade . . . Montaigne explicou-se : "Os nomes de meus capítulos nem sempre abarcam a matéria de que tratam", e especialmente no livro III seria possível multiplicar os exemplos (III-5, III-6, III-11 . . . ) .
Em se tratando do capítulo 9 , porém, não é absolutamente certo que o título não convenha, apesar de tudo, em termos de profundidade . É verdade que só se fala em vaidade quatro ou cinco vezes, sempre com brevidade , muito menos , por exemplo , que de morte, de viagens ou das desgraças do tempo . . . Mas é preciso reler o seu começo. Logo depois do título, Montaigne começa: " Talvez não haja vaidade mais clara do que sobre ela escrever de maneira tão vã. " Esse é um modo de nos advertir que o discurso será adequado a seu objeto, mesmo quando - e talvez principalmente quando - ele der a impressão de tê-lo esquecido. Falar de vaidade com excessiva seriedade seria confundir as coisas ou deixar-se confundir. E na evocação da Bíblia: "O que a divindade tão divinamente exprimiu . . . " trata-se evidentemente do famoso versículo do Eclesiastes: "Vaidade das vaidades, tudo é vaidade . . . " Mas, se tudo é vaidade, pode-se falar de tudo o tempo todo estando-se a falar dela, e é isso o que faz Montaigne nesse capítulo e, em certo sentido, em todos os outros.
Vaidade da literatura ( "escrevinhação "!), vaidade das leis e das revoluções, vaidade das viagens e da morte, vaidade mesmo da sabedoria e de todos os discursos sobre a vaidade...

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Sobre A Vaidade

, um dos mais belos textos da literatura, é também o menos pretensioso. Se é uma obra-prima, isso se deve um pouco ao acaso, ou melhor, a essa necessidade imprevisível a que hoje damos o nome de gênio e que outra coisa não é, em se tratando de Montaigne, senão o próprio Montaigne, com seu gosto extremo pela verdade, com o desprezo pelo artifício e com a liberdade sem igual de atitude e tom.
Nosso ensaio, pois, chama-se Sobre a vaidade. Não se deve esperar um tratado segundo as formas habituais, que analise ou discuta essa noção . Somos tentados a dizer que nele se fala de tudo, até – mas não só nem sobretudo – da vaidade . . . Montaigne explicou-se : “Os nomes de meus capítulos nem sempre abarcam a matéria de que tratam”, e especialmente no livro III seria possível multiplicar os exemplos (III-5, III-6, III-11 . . . ) .
Em se tratando do capítulo 9 , porém, não é absolutamente certo que o título não convenha, apesar de tudo, em termos de profundidade . É verdade que só se fala em vaidade quatro ou cinco vezes, sempre com brevidade , muito menos , por exemplo , que de morte, de viagens ou das desgraças do tempo . . . Mas é preciso reler o seu começo. Logo depois do título, Montaigne começa: ” Talvez não haja vaidade mais clara do que sobre ela escrever de maneira tão vã. ” Esse é um modo de nos advertir que o discurso será adequado a seu objeto, mesmo quando – e talvez principalmente quando – ele der a impressão de tê-lo esquecido. Falar de vaidade com excessiva seriedade seria confundir as coisas ou deixar-se confundir. E na evocação da Bíblia: “O que a divindade tão divinamente exprimiu . . . ” trata-se evidentemente do famoso versículo do Eclesiastes: “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade . . . ” Mas, se tudo é vaidade, pode-se falar de tudo o tempo todo estando-se a falar dela, e é isso o que faz Montaigne nesse capítulo e, em certo sentido, em todos os outros.
Vaidade da literatura ( “escrevinhação “!), vaidade das leis e das revoluções, vaidade das viagens e da morte, vaidade mesmo da sabedoria e de todos os discursos sobre a vaidade…

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