Esta é uma análise do romance Satolep, do escritor pelotense Vitor Ramil, cujo foco é o olhar para diferentes questões sobre a cidade, as quais são: a cidade em seus aspectos físicos; a viagem na cidade – tanto na própria Satolep como em outras cidades para as quais a personagem principal, Selbor, se desloca, em função de seu trabalho e do desejo de esquecer Satolep; a memória – não só a memória que Selbor leva consigo de Satolep quando dela se distancia, como também a memória da cidade gravada nas fotografias durante a estada em Satolep, a qual podemos denominar de memória da paisagem cultural; e o percurso para a construção de um olhar que realmente consegue dar conta do lugar.
Direciono o olhar para o percurso da personagem principal pelos caminhos de uma cidade, olhar que é permeado pelas viagens por outras cidades e pelo olhar para o interior de si mesmo; e, ao fazê-lo, relembro que “[…] ler é principalmente uma experiência individual, uma expressão [da] autonomia individual”.
Deste modo, a leitura sobre o movimento empreendido por Selbor é resultado de uma leitura individual, uma expressão de um eu que pressentiu a necessidade de pensar sobre estas questões, as quais me inquietam enquanto leitora da cidade. Ler aqui se confunde com um deslocar-se sozinho por um labirinto, pois a leitura é um ir e voltar para encontrar um caminho a seguir.
O romance Satolep constitui-se através de três narrativas: a das fotografias, a dos textos relacionados a cada fotografia – em fonte itálica –, e o longo e predominante relato do personagem Selbor sobre suas andanças e seus movimentos para a cidade e na cidade – narrativa em blocos e grafada em fonte normal.
Selbor empreende um percurso por dentro de Satolep, num primeiro momento para perceber o que o trouxe de volta – já que se deslocou para outros lugares quando ainda jovem e algo o impulsiona a voltar.
Depois, num segundo momento, após sentir que precisa registrar aquela cidade, ele trabalha para completar seu diário de viagem: um apanhado de fotografias e textos que possibilitarão aos futuros moradores de Satolep olhar para aquelas mesmas fachadas, aqueles casarões que seu olhar (o de Selbor) registrou, ainda que através de uma imagem em papel.