A África do Sul ocupou durante muito tempo as primeiras páginas do noticiário internacional. De país identificado entre os Estados párias, com um governo diplomaticamente isolado e com uma história marcada pelo estigma do confronto racial, tornou-se ela, a partir da década iniciada em 1991, objeto de progressiva transformação em busca da conciliação interna e da convivência pacífica na comunidade internacional. A reconstrução da vida nacional sul-africana e a sua reinserção no mundo moderno não foram, entretanto, tarefas fáceis. Durante muito tempo, o país foi associado a um dos maiores dramas do século XX, suscitando paixões, revoltas e, sobretudo, muitas desconfianças em torno dos verdadeiros propósitos de seus governantes.
As incógnitas que dominaram o período de transição entre o regime do apartheid e a África do Sul moderna, governada pelos legítimos representantes de seu povo, estavam, assim, intimamente ligadas ao rescaldo da sua história entre os anos 1945 e 1991. A começar do período que se seguiu à Segunda Grande Guerra, essa história foi caracterizada pelo desencontro entre o Estado e a nação, pelo domínio político, econômico e social de uma minoria de origem europeia sobre a grande maioria da população nativa do país e pelas nefandas teses do apartheid, que conferiam aos homens brancos a condição de raça superior dentro de um ardiloso sistema de opressão, ao qual os demais grupos étnicos deveriam submeter-se em nome da ordem e do desenvolvimento geral do país.
Muito se escreveu sobre as injustiças do apartheid. Suas iniqui-dades e os mecanismos que as sustentaram são por demais conhecidos. Não faltaram motivos para recriminá-los, nem tampouco vozes para denunciá-los. No entanto, durante muito tempo, a agressão moral e material praticada pelo regime sul-africano permaneceu impune e o governo de Pretória, malgrado o isolamento diplomático a que foi submetido, logrou sobreviver na cena internacional, desenvolvendo intrincadas relações com os grandes países do Ocidente e fazendo do seu regime um atrativo para o mundo dos negócios.
Como foi possível a um governo universalmente condenado manter-se à superfície em um mundo cada vez mais hostil a sua causa? De que maneira o regime nasceu e floresceu precisamente no período em que as lições do grande conflito mundial insistiam em realçar os direitos fundamentais do homem? Que mecanismos de contrapressão foram utilizados para aplacar o ostracismo imposto pela comunidade internacional?
África Do Sul: Do Isolamento À Convivência
- Relações Internacionais
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