
Como pesquisadores da área de Letras, com frequência, deparamo-nos com vários conceitos sem que nos atentemos para as peculiaridades dos termos que usamos na área, aos quais se ligam, quase sempre, a outros tantos conceitos e pressupostos, como a própria definição do que é a língua e a reflexão metodológica do ensino de uma língua.
Se essa questão já é complexa, quiçá pensarmos na questão de políticas públicas plurilíngues, em detrimento do monolinguismo que vigora no país, garantindo, assim, o status de cooficiais a outras línguas, autóctones e alóctones, faladas várias partes do Brasil. Sobre o caráter plurilíngue do nosso país, apresentam-se os seguintes dados: em torno de 170 línguas autóctones (aquelas faladas originalmente em determinado espaço geográfico, como as línguas indígenas) e 30 línguas alóctones (línguas transplantadas de uma região para outra, como as línguas de imigração).
Novamente, aqui, na própria definição de línguas autóctones e alóctones, deparamo-nos com peculiaridades, pois a conceituação e o entendimento efetivo do que sejam essas línguas dependem da forma como entendemos “comunidade linguística”, seus pressupostos e seus limites. As línguas autóctones e alóctones, justamente por tais particularidades, encaixam-se no que expõe Cavalcanti sobre a diversidade de contextos bilíngues de minorias do Brasil.
Necessário é, portanto, reconhecer a importância dessas línguas como elementos de transmissão da cultura e como referências identitárias para os diversos grupos sociais que vivem no país; entendê-las, portanto, como signo de identidade, de pertencimento. Reflexão esta que pretende este livro, que apresenta nove capítulos em que aspectos relacionados à aprendizagem, à descrição e à valoração das línguas autóctones e alóctones são apresentados.
Pensar em língua como prática sociocultural equivale a pensar também a identidade de um povo. Como indicam Giles e Johnson, o comportamento linguístico é um importante marcador de identificação de um falante com um grupo étnico, sendo as atitudes linguísticas sensíveis à identidade etnolinguística.
