Foi no ano de 1970 que Simone de Beauvoir lançou o livro A velhice, que até hoje é referência na área das ciências do envelhecimento. A denúncia da condição de abandono da velhice pela sociedade em geral ecoa ao longo de toda sua obra, cujo intuito, de acordo com a autora, era quebrar a conspiração de silêncio em torno dessa população. Já na apresentação de seu texto, a autora faz um apelo: “é por isso que urge quebrar esse silêncio: peço aos meus leitores que me ajudem a fazê-lo”.
O silêncio social em torno da velhice expresso no abandono e no descaso dessa população apontava o modo pelo qual a sociedade tratava seus velhos: como um refugo. Essa era uma das faces da velhice, estigmatizada e indesejável, objeto de obras de caridade, confinada em asilos ou na solidão do desamparo familiar e social e preterida no âmbito das políticas públicas.
Mesmo que tenham surgido leis que procuram garantir a proteção aos idosos, resquícios dessa velhice indesejável são encontrados com facilidade ainda hoje, seja de forma explícita, como a violência praticada contra os velhos nos espaços urbanos e no interior das famílias, seja travestida de outras faces, como o aumento excessivo da prática de cirurgias plásticas a fim de evitar os efeitos do envelhecimento.
Atualmente, a regra é não envelhecer. Não somente a velhice por si só é indesejável, mas a finitude humana também o é. Por isso o envelhecimento permaneceu na orla social por tanto tempo como uma espécie de tabu, da ordem de um interdito em relação ao qual o silêncio seria o melhor aliado.
Essa velhice silenciada, da qual Beauvoir se fez porta-voz, aos poucos foi encontrando ressonâncias em alguns setores da sociedade, como o meio acadêmico, os serviços de assistência social e o poder público. O que antes era uma conspiração de silêncio em torno da velhice passou a uma intensa produção discursiva sobre o assunto, desvelando e engendrando outras facetas desse rosto, mais revitalizado e valorado, com alguns traços diferentes daqueles descritos por Simone de Beauvoir ou pela poeta Cecília Meireles, “assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios nem o lábio amargo”. Entra em cena uma nova velhice… “Eu não dei por esta mudança,/tão simples, tão certa, tão fácil.”
Cartografias Do Envelhecimento Na Contemporaneidade
- Ciências Sociais, Medicina, Psicologia
- 24 Visualizações
- Nenhum Comentário
Link Quebrado?
Caso o link não esteja funcionando comente abaixo e tentaremos localizar um novo link para este livro.