O imaginário mítico-simbólico da serpente é fruto de um conjunto de elementos que compõem o ser total desse espécime rastejante, um dos mais importantes arquétipos da alma humana […] que produz uma imagem complexa, ou, para sermos mais exatos, um complexo de imaginação.
Imaginamo-la trazendo a vida e trazendo a morte, maleável e dura, reta e arredondada, imóvel e rápida – assemelhando-se à própria imagem do homem civilizado.
A gama de papéis míticos, arquetípicos e simbólicos que a serpente desempenha no imaginário coletivo é devida ao seu tremendo e fascinante mistério que imprimiu medo e encantamento nos homens de todas as épocas e lugares, inspirando-lhes imagens e enredos fabulosos.
Resíduos inconscientes desse medo mórbido somados às suas características peculiares, ao mesmo tempo curiosas e sinistras, criaram um ente monstruoso e lhe insuflaram vida longa e resistente na imaginação oriental e ocidental prioritariamente.
Com efeito, o imaginário da serpente é sempre algo aterrador e enigmático que está registrado nas zonas mais profundas da psique coletiva, na arca da mente, que pode ser explicado como projeção inconsciente das experiências de indivíduos primitivos com animais gigantescos, cuja força superior os dominava até a morte.
As imagens míticas, simbólicas e arquetípicas que modelam o perfil da serpente são ambivalentes e criativas. Nelas se expressam, paradoxalmente, malignidade e benignidade que exprimem o conhecimento empírico, factual, do homem entrelaçado com suas experiências psico-espirituais na tentativa de articular formas de superação das dificuldades em certas situações na vida.
Rainha suprema na aurora dos tempos, quase todas as civilizações arcaicas deificaram-na como Senhora da vida e da morte, renderam-lhe cultos, ofereceram-lhe vítimas e diversificaram apologias à sua valência positiva e negativa, ao seu poder letal e vivificador que se disseminou de acordo com a tonalidade das emoções humanas.