
Poetisa e filósofa, itabunense, Valdelice Pinheiro, falecida em 1993, foi uma das fundadoras da Universidade Estadual de Santa Cruz, instituição cuja editora publica este livro.
Afora textos esparsos em jornais e revistas, ela publicou em vida dois pequenos livros de poesias: De Dentro de Mim (1961) e Pacto (1977); e dois ensaios: Ser e Evolução (1973) e Retomada (in: Revista FESPI: 1984), atualmente esgotados.
No entanto, o material que deixou inédito (a maior parte do que escreveu) exigia tratamento e publicação. Antes de dar início ao Projeto, obtive da família, através do Sr. Gabriel Soares Pinheiro, irmão e inventariante da poetisa, a autorização formal para o acesso ao espólio e o trabalho com o acervo.
Desenvolvido no Departamento de Letras e Artes da UESC (1996 – 2000), o Projeto do qual resulta esta edição objetivou resgatar os inéditos poéticos de Valdelice Pinheiro, visando a contribuir para a memória cultural da Região Sul da Bahia.
A proposta intersubjetiva foi orientada no entendimento da literatura como expressão artística e comunicadora, espaço de inter-relações de saberes, por isso mesmo influenciada e influenciadora da História.
A profusão e a riqueza dos materiais encontrados exigiram, não somente no processo da pesquisa, mas para a definição e apresentação do corpus desta edição, a reflexão sobre as relações da literatura e sobre as suas funções contemporaneamente.
No primeiro caso, foi considerada sua tendência dialética e a interrelação de linguagens, na compreensão de que “a criatividade repousa na resposta mais do que nas premissas iniciais e nos materiais brutos”.
No segundo, tivemos em conta as funções da literatura no que concerne à possibilidade de seu deslocamento para novos eixos de associação e funcionalização e no que se refere ao seu processo comunicacional.
Tendo em conta essas orientações, a proposta do resgate poético compreendeu, além das questões literárias, a observação de comportamentos éticos, filosóficos e políticos, traduzidos em estratégias discursivas reveladoras do imaginário da poetisa itabunense.
Foi tomada a seqüência: vivência/experiência/ação para o escopo do processo metodológico devido à mesma seqüência funcionar como suporte para o que o teórico alemão considera as funções intencionadas pelo autor (vivência), que são desencadeadoras dos procedimentos de produção textual (experiência), por sua vez provocadoras de procedimentos de compreensão textual (ação).
Assim, os procedimentos da produção autoral dos quais resultaram os esquemas de ação (estratégias discursivas do texto) foram reconhecidos como sinalizadores para o estabelecimento dos manuscritos e, depois, para a seleção do corpus desta edição.
