
O uso de drogas lícitas e ilícitas mobiliza crenças, valores e representações levando as pessoas a se posicionarem diferentemente quanto à legalização ou não de certas drogas e quanto à forma de se relacionar com os usuários. Ao longo da história, observamos mudanças nesses posicionamentos.
Em alguns momentos o álcool era considerado uma droga ilícita e ameaçadora para a sociedade. Atualmente, é legalizado, presente em festas, comemorações e encontros entre amigos, parece ser percebido também como elemento facilitador das relações entre amigos.
Outras drogas permanecem ilícitas, embora haja atualmente um movimento visando a sua legalização, como é o caso da maconha. Outras ainda são tratadas como grande ameaça social, ligada à desorganização da pessoa, quebra de valores, desestruturação de famílias e causa de violência, como é o caso atual do crack.
O debate brasileiro sobre o consumo de álcool e outras drogas parece acompanhado de uma grande ambiguidade, sobretudo no que concerne às drogas ilícitas. Por um lado, a questão é colocada como problema de saúde exigindo intervenções que se apoiam em uma política nacional de redução de danos.
Por outro lado, o tema é tratado como uma questão de transgressão à lei, exigindo, portanto, uma intervenção policial. Essa ambiguidade aparece no discurso da imprensa, nas conversas cotidianas entre as pessoas ou ainda nas práticas profissionais.
Essa polêmica nos instigou a realizar os trabalhos aqui apresentados, principalmente pela compreensão de que o comportamento não se concretiza apenas com base em informações, mas também com base em crenças, valores e representações.
Do mesmo modo, a atuação profissional não é apenas marcada pelo conhecimento técnico, mas sendo uma atividade humana, a prática profissional tem também como referência os valores e crenças de uma sociedade.
Nessa perspectiva, um conjunto de pesquisas foram realizadas em uma perspectiva psicossocial, na Universidade Federal de Pernambuco e na Universidade de Brasília, visando compreender o pensamento social sobre as drogas. Parte do resultado de alguns desses trabalhos é apresentada neste livro.
Pedimos ainda que duas profissionais que atuam com usuários de drogas escrevessem sobre essa experiência. A publicação do conjunto dos trabalhos só foi possível graças ao apoio do CNPq.











