Ler para escrever para ler é uma publicação com uma série de textos para pais e professores com dicas simples e preciosas sobre como acolher e apoiar a escrita autoral e criativa.
Ler, ajuda a entender melhor o mundo e as próprias emoções. Ler o que se escreveu é um exercício de busca de sentido e qualidade, porque ler também pode ajudar a ser gente melhor.
Nos anos 1950, jovem professor da turma de 6ª série, inspirado pelos surrealistas, Michel Lobrot resolveu fazer o exercício da “escrita automática”. O resultado foi fantástico: “As crianças, ainda não deformadas pela prática da redação ‘escolar’, entendiam o que eu sugeria, sem necessidade de longas explicações.
Obtive textos bonitos, diretos, autênticos”.
Na década de 1980, professor em uma universidade experimental, ele retomou a escrita automática com seus alunos, mais uma vez com resultados entusiasmantes. Alguns desses alunos acabaram virando animadores de oficinas de redação, psicoterapeutas, professores, pedagogos, e continuaram a praticar o método de Michel Lobrot.
Durante séculos e séculos, escrever era equivalente a pensar, refletir, imaginar, conceber. Ora, se a gente deve dar três voltas na língua antes de falar, deveria, então, dar dez vezes mais voltas na mão com a caneta ou com o mouse do computador antes de escrever. Nada contra isso, de jeito nenhum. O que é bem concebido é claramente enunciado.
Mas escrever não se limita a pensar: escrever é CRIAR, INVENTAR.
Alguma coisa que antes não existia deve surgir. Dessa “coisa” que surge nascem concordâncias, uma certa ordem, palavras, frases que exprimem ideias, sentimentos, imagens… Tudo isso deve SURGIR no mundo para depois ser trabalhado, aprimorado, mexido.
E o que vai SURGIR precisa de uma MOBILIZAÇÃO: algo capaz de fazer com que as ideias, as imagens, os sentimentos, as representações se apresentem à pessoa que vai escrever, surjam no seu espírito, como num passe de mágica.
Os estímulos externos que o professor traz mexem com o mundo interior dos alunos e abrem as “reservas” de fantasias e memórias.
O presente acorda o passado!
A escrita que esperamos que aconteça é, ao mesmo tempo, “a coisa mais leve, mais engraçada e mais séria que existe”, como escreveu Michel Lobrot no prefácio do livro 90 jeux d’écriture.
Os temas de conversa, o Baú de ideias e outras publicações do Instituto Ecofuturo para professores trazem elementos para fazer a MOBILIZAÇÃO e “acordar o passado”. Tomara que seus alunos sintam o quanto escrever pode ser mesmo “a coisa mais leve, mais engraçada e mais séria que existe”.