Num pensionato de freiras paulistano, em 1973, três jovens universitárias começam sua vida adulta de maneiras bem diversas. A burguesa Lorena, filha de família quatrocentona, nutre veleidades artísticas e literárias. Namora um homem casado, mas permanece virgem. A drogada Ana Clara, linda como uma modelo, divide-se entre o noivo rico e o amante traficante. Lia, por fim, milita num grupo da esquerda armada e sofre pelo namorado preso.
As meninas colhe essas três criaturas em pleno movimento, num momento de impasse em suas vidas. Transitando com notável desenvoltura da primeira pessoa narrativa para a terceira, assumindo ora o ponto de vista de uma ora de outra das protagonistas, Lygia Fagundes Telles constrói um romance pulsante e polifônico, que capta como poucos o espírito daquela época conturbada e de vertiginosas transformações, sobretudo comportamentais.
Obra de grande coragem na época de seu lançamento (1973), por descrever uma sessão de tortura numa época em que o assunto era rigorosamente proibido, As meninas acabou por se tornar, ao longo do tempo, um dos livros mais aplaudidos pela crítica e também um dos mais populares entre os leitores da autora.
Lygia Fagundes Telles é paulista, filha de Durval de Azevedo Fagundes e Maria do Rosário de Azevedo Fagundes. Passou a infância no interior do Estado, em pequenas cidades onde seu pai foi delegado e promotor público: Areias, Assis. Apiaí, Sertãozinho… Voltando à capital, cursou o ginásio do Instituto de Educação Caetano de Campos, tendo sido aluna do professor Silveira Bueno, de quem recebeu os primeiros incentivos para a carreira literária. Durante o curso secundário escreveu suas primeiras histórias, reunindo as num pequenino livro que viria a destruir anos depois porque, em sua opinião, a pouca idade não justifica o mau livro “Hoje, uma jovem de quinze anos fuma, bebe, lê Kafka, discute sexo, enfim, ousa tudo. Eu, com essa idade era só ignorância e medo.