O trabalho no Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas (Cetad), a partir do acolhimento de jovens usuários de drogas, nos motivou a organizar este livro e, para contextualizar o significado desta publicação, será preciso fazer uma breve trajetória dessa experiência institucional.
As questões relativas à adolescência têm sido discutidas por aqueles que tratam desse fenômeno, através de múltiplas perspectivas e olhares diversos. Nesse cenário, evidencia-se o consumo de drogas cuja relevância na contemporaneidade nos convoca a verificar a forma como o tema tem sido abordado em nosso meio.
Frequentemente e de maneira equivocada, constatamos que os veículos de comunicação, instituições e muitos profissionais que trabalham com jovens têm privilegiando uma abordagem centrada na droga, tomada a princípio como um mal em si, em detrimento de um olhar mais cuidadoso em relação ao jovem e seus determinantes de consumo.
Sabemos que a aproximação dos jovens com as drogas contempla múltiplos aspectos e não podemos deixar de sinalizar as funções que a droga assume para cada um, de modo singular. É pelo prazer, pelo compartilhamento com os pares que muitos utilizam drogas. Tentam, desta forma, estabelecer novos laços sociais, buscam novos ideais e novos vínculos, diferentes do seu grupo familiar de origem, em tempos do imperativo ao consumo.
Algumas vezes, na prática clínica, recebemos adolescentes que encontram na droga uma forma de atenuar uma angústia brutal, ao se sentirem controlados, sufocados, impossibilitados de fazer escolhas, diante dos apelos advindos do Outro social. Aqui, se evidencia o embaraço com que se confrontam familiares e jovens, nos impasses e possibilidades que permeiam a construção de uma posição adulta no mundo.
Se, para alguns jovens, essa transição é marcada por dificuldades nas quais a droga pode, transitoriamente, ocupar funções particulares, para outros, o que se delineia é uma verdadeira impossibilidade de fazer esta passagem.
Nestes jovens, constatamos uma carência dos recursos simbólicos que lhes permitiriam encontrar um lugar possível, uma inscrição, através de novos laços sociais, asseguradores de uma pertença em direção à vida adulta.
A Adolescência E O Consumo De Drogas: Uma Rede Informal De Saberes E Práticas
- Biologia, Ciências Sociais, Educação, Medicina, Psicologia, Saúde
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