A literatura sempre sugere o que pensar, porém, quando deparamos com meu cavalo f’losofou… na escrita de Guimarães Rosa, naturalmente passamos a uma série de considerações que ultrapassam o nível exclusivo da literatura. Naturalmente, o cavalo do escritor nunca aventurou-se na leitura dos gregos, mas tanto o escritor quanto muitos de nós colocamo-nos continuamente a pergunta pelo sentido do labor filosófico.
Heidegger afirmou que filosofar era possível apenas em grego e alemão e, provavelmente, essa afirmação seja a menos filosófica desse autor, porque no momento em que alguém enuncia um “Eu!” significando-se nessa palavra, já instaurou-se a distinção entre a individualidade e o mundo e, por conseguinte, a questão imediatamente subsequente nasce – o que é…? – e todas as vezes que se coloca essa questão, interroga-se o sentido do próprio ato de pensar.
O pensamento acontece sempre em um onde e um quando, ou seja, em um espaço e em um tempo determinados. Enquanto humanos, pensamos apenas e necessariamente determinados pelo espaço e pelo tempo. Não pensamos alhures nem na eternidade, por isso todo pensamento existe na situacionalidade espaço temporal.
Nesse sentido, o pensamento nasce marcado pelo espaço, enquanto situação e condição prévia do que pensa, e pelo tempo, enquanto herança e horizonte do próprio pensar.
Podendo-se falar, então, do espaço e tempo como duas condicionantes irrenunciáveis do pensamento. E o próprio pensamento como o distintivo inalienável de todo indivíduo capaz de entender-se enquanto eu ou individualidade. Assim sendo, a pergunta – o que significa pensar? – estende-se a todos os entes humanos enquanto participantes dessa condição, independente do espaço (situação e condição) e do tempo (herança e horizonte).
Em decorrência disso, todo pensar relaciona-se espacialmente por identificação ou exclusão com o lugar onde se desenvolve e temporalmente pela assimilação ou negação da condição em que foi elaborado. Afirma-se, com isso, a inexistência de um pensamento neutro, ou seja, sem significação espaço temporal. Donde se segue que o trabalho intelectual significa algo para o espaço e o tempo em que foi desenvolvido, embora possa ser apenas a recusa a pensar a própria situacionalidade do pensamento, ou seja, a recusa do espaço e do tempo em que se pensa, constituindo-se um pensamento alheio.
Philosophia Brasiliensis: História, Conhecimento E Metafísica No Período Colonial
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