Mito E Disputa Política Em Santa Evita

O roubo do cadáver de Eva Perón, núcleo da trama da narrativa do estudo que deu origem a Mito E Disputa Política Em Santa Evita.

Como um cadáver foi capaz de despertar uma onda de fanatismo e violência e simbolizar o destino de uma nação que ainda não conseguiu sepultar seus mortos? De que maneira podemos refletir sobre os resquícios do período ditatorial através do cruzamento de ficção, história e discurso político nas primeiras décadas do século XXI?

Movida pelo interesse na literatura argentina e pelo mistério do roubo do cadáver da ex-primeira dama argentina, Eva Perón, assim como pelas imbricações entre jornalismo, ficção e história, descobri nas páginas de Santa Evita, do escritor e jornalista argentino Tomás Eloy Martínez, uma fonte de estímulo a meus questionamentos.

O autor dedicou a vida a repensar o passado de seu país na tentativa de compreender o presente, pois, para Tomás Eloy Martínez, a ficção e a história são escritas para esculpir o leito do rio por onde navegará o futuro. Mas “tanto a história como a ficção são construídas com as respirações do passado”, porque construir o futuro requer compreender o presente e, principalmente, deixar de negar o passado. E, “nessas fontes comuns, nesses espelhos onde ambas se refletem, já não existem quase fronteiras: as diferenças entre ficção e história se tornam cada vez mais fracas, menos claras”.

Dessa forma, percebemos que o autor não busca na ficção uma arma para derrotar a história ou mesmo negá-la. Em Santa Evita, a narrativa literária é a ponte que nos leva à história entrelaçada com o mito Eva Perón. A obra ajuda-nos a reconstruir e repensar este mito e, acrescida dos discursos políticos, apresenta um vasto panorama psicossocial da Argentina populista, das disputas políticas e golpes militares, das ditaduras e do processo democrático.

Tomás Eloy afirma que Santa Evita se parece com um sonho que teve. “Una mariposa que batía hacia adelante las alas de su muerte mientras las de su vida volaban hacia atrás”. A metáfora da borboleta pode ser interpretada como a estrutura narrativa do romance: a vida de Eva avança para trás enquanto a morte segue adiante.

Isto porque o ponto de início do romance é a morte de Eva Perón e a narrativa retrocede cronologicamente para expor a vida e o nascimento da personagem Evita. No entanto, quando nos referimos às asas da morte, ganham relevo tanto a narrativa que se concentra no que aconteceu ao corpo após a morte, quanto a violência a qual o corpo foi submetido e que se estendeu à posteridade, repetindo-se com milhares de jovens durante a última ditadura militar argentina.

Dessa maneira, a imagem apocalíptica de “una mariposa que batía hacia adelante las alas de su muerte” nos recorda a imagem do anjo da história de Walter Benjamin.

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O roubo do cadáver de Eva Perón, núcleo da trama da narrativa do estudo que deu origem a Mito E Disputa Política Em Santa Evita.

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Movida pelo interesse na literatura argentina e pelo mistério do roubo do cadáver da ex-primeira dama argentina, Eva Perón, assim como pelas imbricações entre jornalismo, ficção e história, descobri nas páginas de Santa Evita, do escritor e jornalista argentino Tomás Eloy Martínez, uma fonte de estímulo a meus questionamentos.

O autor dedicou a vida a repensar o passado de seu país na tentativa de compreender o presente, pois, para Tomás Eloy Martínez, a ficção e a história são escritas para esculpir o leito do rio por onde navegará o futuro. Mas “tanto a história como a ficção são construídas com as respirações do passado”, porque construir o futuro requer compreender o presente e, principalmente, deixar de negar o passado. E, “nessas fontes comuns, nesses espelhos onde ambas se refletem, já não existem quase fronteiras: as diferenças entre ficção e história se tornam cada vez mais fracas, menos claras”.

Dessa forma, percebemos que o autor não busca na ficção uma arma para derrotar a história ou mesmo negá-la. Em Santa Evita, a narrativa literária é a ponte que nos leva à história entrelaçada com o mito Eva Perón. A obra ajuda-nos a reconstruir e repensar este mito e, acrescida dos discursos políticos, apresenta um vasto panorama psicossocial da Argentina populista, das disputas políticas e golpes militares, das ditaduras e do processo democrático.

Tomás Eloy afirma que Santa Evita se parece com um sonho que teve. “Una mariposa que batía hacia adelante las alas de su muerte mientras las de su vida volaban hacia atrás”. A metáfora da borboleta pode ser interpretada como a estrutura narrativa do romance: a vida de Eva avança para trás enquanto a morte segue adiante.

Isto porque o ponto de início do romance é a morte de Eva Perón e a narrativa retrocede cronologicamente para expor a vida e o nascimento da personagem Evita. No entanto, quando nos referimos às asas da morte, ganham relevo tanto a narrativa que se concentra no que aconteceu ao corpo após a morte, quanto a violência a qual o corpo foi submetido e que se estendeu à posteridade, repetindo-se com milhares de jovens durante a última ditadura militar argentina.

Dessa maneira, a imagem apocalíptica de “una mariposa que batía hacia adelante las alas de su muerte” nos recorda a imagem do anjo da história de Walter Benjamin.

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