O leitor que se interessa pela obra de Lygia Bojunga, e quiser se aprofundar no conhecimento de sua literatura, acabará por descobrir – mesmo numa rápida pesquisa na internet – que nas últimas décadas foram produzidos mais de cem trabalhos acadêmicos de fôlego (dissertações de mestrado e teses de doutorado) sobre a produção literária da escritora. No caso de artigos científicos ou de divulgação, ainda mais difíceis de quantificar com rigor, esse número se amplia muito e atinge facilmente a casa do milhar.
Essa constatação explicita a justa dimensão da importância da autora gaúcha no país e no exterior, vencedora dos dois mais relevantes prêmios literários internacionais no campo da literatura infantojuvenil – o Hans Christian Andersen, conferido a Lygia Bojunga em 1982, e o ALMA (Astrid Lindgren Memorial Award), conferido em 2004.
Entretanto, a prolixidade de pesquisas sobre a escritora acaba sinalizando também o quanto fica cada vez mais difícil para qualquer pesquisador, mesmo aquele bastante experiente, alcançar uma abordagem original da obra de Lygia Bojunga. Isso, por mais que se tenha consciência de que o alto grau de inventividade, imaginação e polissemia de sua literatura convide os estudiosos a um contínuo exercício hermenêutico.
Pois é precisamente esse teor original – de um trabalho que, além dessa qualidade, ostenta muitas outras – o que, em particular, merece ser destacado neste estudo que aqui se apresenta, voltado à análise de seis obras fulcrais de Lygia Bojunga: Corda Bamba (1979), O meu amigo pintor (1987), Nós três (1987), O abraço (1995), Sapato de salto (2006) e Querida (2009).
O ponto de partida deste ensaio de fôlego, empenhado em examinar um conjunto substantivo de narrativas da produção de Lygia Bojunga à luz do trágico, foi a pesquisa realizada por Luciana Ferreira Leal por ocasião de seu pós-doutoramento em Letras, desenvolvido na Faculdade de Ciências e Letras de Assis – UNESP ao longo do ano de 2014.
Para a abordagem inovadora da obra de Lygia Bojunga a que chegou, a pesquisadora ancorou-se na larga familiaridade com o tema do trágico desenvolvida ao longo de sua trajetória profissional e consubstanciada em diversos artigos que produziu sobre o assunto, publicados em variados periódicos e livros, assim como em sua dissertação de Mestrado – Rastros do trágico em alguns contos machadianos (UEL, 2000) – e em sua tese de Doutorado – Elementos do trágico em Eça de Queirós: A tragédia da Rua das Flores e Os Maias.