Política Externa Brasileira (1889-2002)
– Autonomia e desenvolvimento têm sido temas centrais da política externa brasileira. Nesse livro, a autora analisa a política externa desde a Proclamação da República, demonstrando a articulação entre as ideias e os interesses predominantes dos principais atores e instituições da vida política e econômica nacional.
A política externa pode ser definida como o conjunto de ações e decisões de um determinado ator, geralmente mas não necessariamente o Estado, em relação a outros Estados ou atores externos — tais como organizações internacionais, corporações multinacionais ou atores transnacionais —, formulada a partir de oportunidades e demandas de natureza doméstica e/ou internacional.
Nesse sentido, trata-se da conjugação dos interesses e ideias dos representantes de um Estado sobre sua inserção no sistema internacional tal como este se apresenta ou em direção à sua reestruturação, balizados por seus recursos de poder.
No plano das ideias, valores e doutrinas que orientaram a ação externa do Brasil ao longo do último século destaca-se a busca pela autonomia. Fosse como decorrência da aproximação de um dos novos pólos de poder mundial, fosse como resultado da diversificação das parcerias ou da maior participação nas instituições internacionais, a política externa brasileira ao longo do século XX foi marcada pela busca de recursos de poder que garantissem maior autonomia do país no plano mundial, mesmo quando essa estratégia parecia se traduzir — e muitas vezes de fato se traduziu — no alinhamento a uma determinada potência.
Como contrapartida dessas ideias ou, ainda, como uma de suas partes constituintes, encontramos, sem dúvida alguma, os interesses. Assim, esse período também foi marcado por uma constante que se pode resumir brevemente como a busca pelo desenvolvimento. Passando de um modelo agrário-exportador, em que a venda de produtos primários no mercado internacional se constituía na principal fonte de recursos da economia, para um projeto de desenvolvimento de caráter industrializante com forte proteção do Estado, até o período mais recente em que imperou a lógica do mercado, vê-se que ao longo dos anos a satisfação dos interesses perseguiu estratégias econômicas diferentes, mas sempre em busca do mesmo objetivo: o desenvolvimento.
Na conjugação de ideias e interesses, o que se percebe na política externa brasileira é a hegemonia de uma visão realista das relações internacionais e do papel que o país deveria desempenhar no sistema. Essa visão realista percebe o sistema internacional como anárquico, onde o Estado é o principal, embora não o único, ator no sistema internacional agindo tanto em busca de ganhos relativos, na vertente hobbesiana, quanto de ganhos absolutos, na vertente grotiana. E assim como varia a concepção realista das relações internacionais — se tributária do pensamento do filósofo inglês Thomas Hobbes ou do jurista holandês Hugo Grotius —, veremos que sua adoção pela diplomacia brasileira também diferiu no tempo e com relação à natureza das questões em pauta.
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