Jorge Luis Borges & Adolfo Bioy Casares – Crônicas De Bustos Domecq/Novos Contos De Bustos Domecq
Tudo começou com um panfleto para uma fábrica de iogurte.
A colaboração entre os dois amigos tinha nascido de uma brincadeira bem conhecida: compuseram a quatro mãos o folheto publicitário de um iogurte produzido por La Martona, a companhia leiteira dos Casares, e se a experiência valeu como uma decisiva aprendizagem para o então jovem Bioy — que assim queimava etapas na árdua disciplina de aprender a escrever —, não parece ter sido menos importante para Borges, cujo veio satírico aflorou em sua própria obra com maior intensidade e brilho nos anos seguintes, quando os encontros se reiteram quase a cada dia, até aproximadamente um mês antes de sua morte em 14 de junho de 1986.
Crônicas De Bustos Domecq/Novos Contos De Bustos Domecq é uma reunião de crônicas e contos de Bustos Domecq. A edição traz textos cronologicamente muito distantes entre si, uma vez que a parceria começou nos anos 1940 e perdurou por décadas.
A compilação acompanha o amadurecimento do escritor inventado. Se os textos, de modo geral, são agudos e de leitura ligeira, não há nada de inocente neles, pois Bioy e Borges usaram sua colaboração para abordar questões em comum, como a modernidade, a literatura e a língua espanhola.
Como em geral acontece nesses casos, Bustos Domecq era o primeiro de uma série; para se ter uma ideia desses avatares, basta considerar o que tem a dizer sobre o assunto B. Suárez Lynch, outro heterônimo que nasceu junto com o primeiro argumento policial sonhado pelos parceiros, ou recorrer ao depoimento do detetive encarcerado Isidro Parodi, que resultou dessa curiosa multiplicação de escritores.
Sem falar, é claro, da parte de Borges, em certos personagens ficcionais como Pierre Menard ou o “outro Borges” narrador, hacedor recorrente e múltiplo no espelho de suas ficções. Todos eles têm implicações estéticas importantíssimas na configuração das obras de próprio punho que Borges e Bioy escreveram.
O escritor argentino Alan Pauls afirma que “amparados por um pseudônimo Borges e Bioy lançaram mão de elementos que não poderiam nunca figurar em suas obras individuais”, como “o uso brutal da cultura popular, atrevimento e paixão rasteiras”.
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