O título do livro, Consciência e matéria, remete a três complexas questões filosóficas as quais abordaremos a partir do pensamento de Bergson: a natureza da consciência, a natureza da matéria e a relação entre consciência e matéria. Tendo em vista os objetivos do presente estudo apresentaremos essa temática, cuja história é longa e tortuosa, a partir daquela que pode ser considerada como a sua formulação paradigmática, a de Descartes, referência teórica fundamental com a qual a tradição filosófica posterior, inclusive contemporânea, dialoga e da qual não consegue se desvencilhar, em que pesem os grandes desenvolvimentos das ciências físicas e biológicas. É por meio de um exercício de aproximação e de distanciamento em relação ao pensamento de Descartes que buscaremos compreender os principais aspectos da filosofia de Bergson e refletir criticamente sobre os seus fundamentos. Para esse objetivo não consideramos que seja necessário nem mesmo oportuno desenvolver uma análise exaustiva do pensamento de Descartes, mas apenas fazer uma apresentação geral de dualismo apontando algumas das críticas a ele dirigidas as quais servirão algumas vezes como um paralelo e outras, como um contraponto em um exercício de compreensão e problematização dos fundamentos do pensamento de Bergson.
Como é notório, Descartes estabelece uma distinção radical entre espírito e matéria, ou alma e corpo, em termos daqueles que seriam os seus atributos essenciais, o pensamento e a extensão respectivamente, excluindo, desse modo, a possibilidade de que o pensamento seja uma propriedade do corpo: “Tudo o que pode pensar é espírito, ou se chama espírito. Mas como o corpo e o espírito são realmente distintos, nenhum corpo é espírito. Logo nenhum corpo pode pensar”. Vejamos como Descartes chegou a esse resultado tomando como fio condutor a obra Meditações metafísicas.
Seu ponto de partida é a crítica do conhecimento sensível. Essa crítica, baseada fundamentalmente na proposição dos argumentos do “erro dos sentidos”, do “sonho” e do “Deus enganador”, consiste em mostrar que o conhecimento proveniente de nossos cinco sentidos corpóreos é duvidoso, ou seja, que não se pode provar de uma forma indubitável que as coisas materiais percebidas, incluindo o nosso próprio corpo, existem objetivamente. E isso porque um objeto material dado em nossa percepção poderia ser apenas um conteúdo de pensamento sem correspondente objetivo, criado por nós próprios independentemente de nossos sentidos, como acontece nos sonhos, ou criado em nós pela ação de um Deus enganador poderoso ou de um Gênio Maligno.
Consciência E Matéria
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