Épuras Do Social: Como Podem Os Intelectuais Trabalhar Para Os Pobres

Sintética e universal como o estilo de Graciliano Ramos é a frase do próprio “velho Graça” para definir Jdanov, o pai do realismo socialista: “É um cavalo”. Sim, intelectuais podem ser cavalgaduras, mas também “cavalos” no sentido afro-litúrgico de cavalo de santo

, de pessoa que serve de suporte para a “montada” de um deus. A analogia funciona até mesmo para o ato da leitura: Joel Rufino nos assegura a certa altura deste magnífico Épuras do Social que “ler bem Macunaíma é assimilar o seu código, se tornar ‘cavalo’ daquele preto retinto filho do medo da noite, prontos para fazer o que ele quiser na sua onipotência de orixá”.
Para o mais comum dos intelectuais, entretanto, a divindade pode ser a musa inspiradora ou, no caso dos militantes de esquerda, o povo. Em sua fase clássica de militância, a intelectualidade de esquerda aspirava a uma espécie de comunhão ideológica, quase mística, com as massas, com o povo. Povo, vamos nos entender, não é uma população, mas um princípio, e a sua ideologia é o conjunto sistemático das significações daí deduzidas.
Sem esse princípio, que é também uma categoria política, não se pode sequer pensar em regime republicano, nem na força comum da democracia, que é a soberania popular. O corpo popular é o coletivo que substitui, no território da Nação moderna, o corpo individual do príncipe. Por isso, o poder de Estado sempre joga com as ficções intelectualizadas de atribuição de soberania ao povo, visto como uma essência de liberdade garantida por leis e direitos, para tentar legitimar o seu arbítrio político.
Joel Rufino não se pergunta aqui sobre nenhum regime formal, nem qualquer abstrato princípio de estruturação dos habitantes de um ­território, mas sobre uma figuração muito concreta do povo, que são as imagens e a realidade da pobreza. Pobres, diz ele, “são os despos­suídos, não de qual­quer posse, mas de território, de casa, de emprego (embora não de trabalho), de local (embora não de lugar), de família (embora não de no­me) e enfim do próprio corpo (no caso dos escravos e servos da Colônia e Império). São, em suma, um estado nômade e vagabundo [...] Pobre é quem se vira (já o miserável não tem essa capacidade) e isso demarca um lugar preciso, quantificável na estrutura social”.

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