Antropologia Da Individuação

Centrada na reflexão sobre as diversas formas culturais que geram o liame simbólico entre homem e mundo, a filosofia cassireriana está, simultaneamente, comprometida com uma antropologia da individuação, através da qual é possível vislumbrar as possibilidades de formação da consciência humana face ao universo mediado pelo símbolo.


Tal como Cassirer inúmeras vezes reitera, é no interior desse universo que devem ser procurados os principais nexos individuantes subjacentes à energia criadora do espírito.
Daí que, no próprio conceito de cultura cassireriano, as formas simbólicas – mito, religião, ciência, arte, linguagem, técnica – assumam, ab initio, o estatuto de realizações progressivas da auto-libertação do ser humano.
Ao contrário da tese da Tragödie der Kultur, de Georg Simmel, as formas simbólicas e os seus artefactos materiais não encerram o sujeito num cosmo auto-suficiente, absoluto e definitivo, cuja natureza objectiva tende a pôr em causa a formação da sua vida subjectiva.
Para Cassirer, inversamente, os processos de simbolização são inscrições do sentido em devir, isto é, tanto estruturam a apreensão da realidade como pressupõem a sua contínua transformação.
Neste volume, o contributo de Christian Möckel representa uma verdadeira introdução reflexiva à questão da relação da actividade configuradora do ser humano com os pressupostos humanistas que estão na sua base.
É propósito do autor mostrar como, na filosofia cassireriana da cultura, a criação da “forma” se articula com a criação e reinvenção de um “eu criador”, capaz de incorporar, concomitantemente, a liberdade e a responsabilidade do agir.
No texto de Rafael Garcia encontramos, por sua vez, um desenvolvimento da temática humanista a partir da perspectiva cassireriana das vivências expressivas. A solidariedade e o reconhecimento, enquanto fenómenos articulados pela intersubjectividade, pressupõem, na acepção de Cassirer, uma “percepção-de-expressão”.
É aí, já nessa esfera perceptiva, trespassada pelas paixões e afectos, que se funda, segundo a análise de Garcia, o “sentimento de humanidade”, a formação – vivida – de uma consciência do “nós”.
Focado na mesma genealogia humanista, o contributo de Muriel van Vliet torna assaz visível e compreensível a filosofia cassireriana como filosofia da “relação”, como pensamento filosófico que busca reencontrar e reinscrever a irredutibilidade expressiva do indivíduo a partir das suas múltiplas projecções culturais.
A ideia de “indivíduo criador” aparece, uma vez mais, reafirmada, em detrimento de uma leitura puramente epistemológica alicerçada na ideia de indivíduo-sujeito. Ora, sustentar uma individuação criadora significa, segundo Cassirer, pressupor o “imperativo da obra”.
Joaquim Braga revela-nos os momentos fundamentais que estruturam a relação entre poiesis e autoconhecimento, “fazer” e “conhecer”, estabelecendo, a partir do pensamento cassireriano, uma distinção seminal entre obra e objecto cultural, que, como se verá, é fundadora da concepção de “imperativo”.

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Centrada na reflexão sobre as diversas formas culturais que geram o liame simbólico entre homem e mundo, a filosofia cassireriana está, simultaneamente, comprometida com uma antropologia da individuação, através da qual é possível vislumbrar as possibilidades de formação da consciência humana face ao universo mediado pelo símbolo.
Tal como Cassirer inúmeras vezes reitera, é no interior desse universo que devem ser procurados os principais nexos individuantes subjacentes à energia criadora do espírito.
Daí que, no próprio conceito de cultura cassireriano, as formas simbólicas – mito, religião, ciência, arte, linguagem, técnica – assumam, ab initio, o estatuto de realizações progressivas da auto-libertação do ser humano.
Ao contrário da tese da Tragödie der Kultur, de Georg Simmel, as formas simbólicas e os seus artefactos materiais não encerram o sujeito num cosmo auto-suficiente, absoluto e definitivo, cuja natureza objectiva tende a pôr em causa a formação da sua vida subjectiva.
Para Cassirer, inversamente, os processos de simbolização são inscrições do sentido em devir, isto é, tanto estruturam a apreensão da realidade como pressupõem a sua contínua transformação.
Neste volume, o contributo de Christian Möckel representa uma verdadeira introdução reflexiva à questão da relação da actividade configuradora do ser humano com os pressupostos humanistas que estão na sua base.
É propósito do autor mostrar como, na filosofia cassireriana da cultura, a criação da “forma” se articula com a criação e reinvenção de um “eu criador”, capaz de incorporar, concomitantemente, a liberdade e a responsabilidade do agir.
No texto de Rafael Garcia encontramos, por sua vez, um desenvolvimento da temática humanista a partir da perspectiva cassireriana das vivências expressivas. A solidariedade e o reconhecimento, enquanto fenómenos articulados pela intersubjectividade, pressupõem, na acepção de Cassirer, uma “percepção-de-expressão”.
É aí, já nessa esfera perceptiva, trespassada pelas paixões e afectos, que se funda, segundo a análise de Garcia, o “sentimento de humanidade”, a formação – vivida – de uma consciência do “nós”.
Focado na mesma genealogia humanista, o contributo de Muriel van Vliet torna assaz visível e compreensível a filosofia cassireriana como filosofia da “relação”, como pensamento filosófico que busca reencontrar e reinscrever a irredutibilidade expressiva do indivíduo a partir das suas múltiplas projecções culturais.
A ideia de “indivíduo criador” aparece, uma vez mais, reafirmada, em detrimento de uma leitura puramente epistemológica alicerçada na ideia de indivíduo-sujeito. Ora, sustentar uma individuação criadora significa, segundo Cassirer, pressupor o “imperativo da obra”.
Joaquim Braga revela-nos os momentos fundamentais que estruturam a relação entre poiesis e autoconhecimento, “fazer” e “conhecer”, estabelecendo, a partir do pensamento cassireriano, uma distinção seminal entre obra e objecto cultural, que, como se verá, é fundadora da concepção de “imperativo”.

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