As fake news, como se constituíram na atualidade, são uma triste realidade e um grande desafio das ciências e da História. Através de uma mistura de desinformação, falácias intencionais, abreviação narrativa e credibilidade de quem envia circulam como uma verdade subalterna, dando a falsa impressão ao receptor de que é como um salvador, impondo-lhe a honrosa missão de encaminhar aos mais próximos essa informação que “os poderosos não querem que o mundo saiba”.
Walter Benjamin em seu célebre texto “O Narrador” afirma que a prática do narrar encontra-se em processo de esgotamento, culminando na privação da comunicabilidade das experiências. A narrativa a que se refere Benjamin é fundada na tradição oral e difundida pelos inúmeros narradores anônimos. O narrador é o homem comum, que relata a sua experiência em comunhão com a experiência coletiva.
A escola, e consequentemente o Ensino de História, é um espaço de conflito de narrativa e narradores. Não chegaremos aos nossos alunos através de textos primorosos, bem escritos e sem qualquer mácula gramatical, mas que não fazem parte das suas vivências. Como aponta Benjamin, é aí que reside a comunicabilidade da história narrada: o mundo do narrador é o mesmo daquele que ouve; a semente da história é jogada no solo que ambos compartilham.
Guerras De Narrativas Em Tempos De Crise é resultado das pesquisas e reflexões apresentadas nas mesas redondas e conferências realizadas durante o XII Encontro Nacional de Pesquisadores do Ensino de História (ENPEH), com o título “Territórios disputados: produção de conhecimento no ensino de História em tempos de crise”, ocorrido em novembro de 2019 na Universidade Federal de Mato Grosso. O evento foi organizado pela Associação Brasileira de Pesquisa em Ensino de História (ABEH).
Os textos apresentam um elenco de diferentes temáticas que representam uma importante contribuição para o campo do ensino de História na contemporaneidade. As reflexões tratam de questões como: ensino de história em tempos de crise, identidades de gênero e literatura, ensino e imaginação política, história única, educação antirracista, memória e educação patrimonial, BNCC e formação docente, tecnologias digitais e licenciatura em História, história escolar, currículo e formação de professores em tempos de pós-verdade, revisionismo e ensino de história, pesquisa e projetos de formação.