
O que faz um jovem poeta?
Como qualquer artista, sem dúvida, busca desvendar, nomeando-os, os mistérios do mundo. São segredos que se insinuam em volta, flagrantemente evidentes e ainda assim secretos.
Ou então, em mergulhos profundos, vai adiante. Deseja novos mundos e universos. Sabemos que empreende uma aventura perigosa. Poucos se mostram capazes de realizá-la, como imaginavam, no início do percurso. Isto porque a dor principal, que se supunha fora, provém de dentro, de uma região onde só imaginamos que continuamos a existir em estado de latência, embora, a cada instante, sem querer, voltemos, gastos, atrás de alimento, para as dimensões insondáveis do que guarda. Ali, há tudo, sussurra-nos uma voz.
Iza Quelhas experimenta, leve, com doçura, o seu vôo. Quer levar na ponta dos dedos, pela sensibilidade, as sinuosidades do que encontra. Neste sentido, segue o exemplo dos pássaros, um dos seus objetos de anotação, ou, na sua passagem, os sinais do que fica.
Só percebe quem respira,
quem lambe os lábios e
brinca com as garras da sereia.
Trata-se de uma referência aos livros. Ao mesmo tempo, trata-se de uma proposta com que se insinua uma opção e uma maneira de ser. A visão da utopia, como vocação principal, paira sobre as sombras, como a vida que se vincula à morte e à consciência da perda.
assim corre a noite, em sua carruagem de melancolia,
na penumbra, esgrimistas invisíveis nos afastam.
Não se creia, porém, que haja, no caso, um vôo cego. A poética se realiza entre o sonho e a realidade, num espaço intermediário, mas justamente onde se tropeça na lucidez (“só enganam os adivinhos os próprios pensamentos”, diz ela). Por semelhante via, aspira-se à totalidade, não obstante a grandiloquência da ambição. E por que não?
lá, entre esferas e compassos,
floresce a vida com sua flor cálida,
num pântano frio…











