Em tempos de polarização discursiva, é extremamente complexo apresentar e trazer para o debate temas de difícil conciliação. Mais ainda quando o que se pretende tratar e elucidar franqueia, de algum modo, aspectos religiosos. O terreno é resvaloso, como diz o escritor mineiro João Guimarães Rosa, no Grande Sertão: veredas, e pode facilmente acirrar disputas e partidarismos, alimentando ódios e fundamentalismos pseudocientíficos.
Nessa perspectiva, tratar o binômio Fé e Razão, de maneira clara e objetiva, é uma necessidade metodológica honesta e sistemática, considerando os desdobramentos históricos, teológicos e filosóficos decorrentes, além de um testemunho fecundo contra os obscurantismos diletantes que, invariavelmente, contentam-se, na atualidade, cada vez mais, com afirmações de opinião, em detrimento do respeito pelo rigor investigativo que uma empreitada como esta demanda.
Consequentemente, os estudos e as ponderações feitas, apresentados por teólogos e filósofos de diferentes épocas, se interessam, não sem dificuldades, por um tratamento harmônico das premissas, tanto pela força argumentativa que ambos os lados possuem, como pela importância que sempre tiveram ao longo da história da humanidade e das práticas sociais que suscitam em ambientes culturais e religiosos muito distintos.
Isto posto, a apresentação minuciosa que Ítalo Rio Tinto faz, a seguir, no seu Argumento Ontológico Como Prova Da Existência De Deus: O Desenvolvimento de Anselmo De Aosta E A Crítica De Immanuel Kant aparece, então, como uma condição de possibilidade dialógica não tendenciosa e não anacrônica, em conformidade com os pressupostos de cada um dos autores envolvidos.
Nela, existe o cuidado de expor em detalhe o argumento ontológico elaborado por Santo Anselmo, ainda pouco discutido com o valor que merece pela Academia, para ser melhor compreendido e assimilado, antes de ser confrontado pela crítica de Immanuel Kant.