Ao vencedor as batatas. E a condição de escrever a história como lhe aprouver.
Negar às gerações do futuro uma apreciação menos unilateral sobre acontecimentos do passado tem sido uma tentação irresistível para quem se apropriou do poder após duros processos de enfrentamento.
No caso da Revolução Russa de 1917 – parte mais sensível de um processo revolucionário europeu único desencadeado pela I Guerra Mundial (1914-1918) –, iniciada quando a frente russa derrocou e a insurreição bolchevique triunfou, a corrente política que se apropriou do poder esteve muito distante de se constituir em exceção.
Assim, documentos que possibilitem conhecer a história da Revolução Russa por fontes outras que não as da historiografia oficial ligada aos vencedores contribuem para uma nova reflexão de conjunto do processo revolucionário e em seus desdobramentos posteriores.
Mesmo ideólogos e apologistas do bolchevismo admitem que os bolcheviques foram, passo a passo, eliminando todas as outras correntes que com eles lutaram pelo fim do regime dos tsares. O que a ideologia e a apologia não revelam é que, em escala crescente, as justificativas utilizadas foram perdendo base real na medida em que as etapas do processo avançavam no sentido de assegurar o monopólio do poder pelo Partido Bolchevique e para que este aplicasse a sua ditadura sobre todas as novas instituições revolucionárias, em especial sobre os sovietes (conselhos) de operários, camponeses e soldados. Tal escalada
culminou com as mais grosseiras falsificações do período Stálin.
Uma combinação de artifícios foi utilizada para obtenção desse resultado de eliminação de adversários internos ao campo da revolução socialista. E se o conhecimento de tais artifícios é válido desde suas origens, conhecê-los em suas primeiras manifestações oficiais, do momento em que adquirem a força de ações de Estado, e a partir de fontes vindas de um tipo de vencidos a quem não se aplica a elástica acusação de contrarrevolucionário, torna-se crucial.
Não se trata, portanto, de vencidos em etapas anteriores do processo, como as correntes liberais (caso dos Constitucionais Democratas – Cadetes) ou da esquerda reformista, impedidas de existirem enquanto forças de oposição legal após a queda dos governos provisórios instaurados a partir de fevereiro de 1917 (caso dos mencheviques e socialistas revolucionários de direita), tampouco dos anarquistas (que muito cedo conheceram as prisões bolcheviques e na sequência conheceram na Ucrânia a tragédia do massacre do exército negro a traição pelo exército vermelho). Trata-se de uma corrente político-partidária que não era adversária da Revolução de Outubro, nem dos sovietes e nem mesmo, em uma primeira fase do processo, dos próprios bolcheviques.
Com tais características, a única corrente existente na Rússia à época era o Partido dos Socialistas-Revolucionários de Esquerda (internacionalistas) – PSRE.
Isaac Steinberg & Outros – Os Socialistas-Revolucionários De Esquerda Na Revolução Russa
- Ciências Sociais, História
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