Cabeças De Segunda-Feira

O absurdo da vida moderna em uma cidade grande encontra em Ignácio de Loyola Brandão um crítico cruel e impiedoso, com um humor agridoce que pode ser, no fundo, simpatia, condescendência ou a suprema forma de sarcasmo. Ou todas reunidas, batidas em liquidificador e bem misturadas. Pode ser.

Cabeças de Segunda-feira, com as suas situações insólitas, suas frustrações e suas obscenidades, exprime um pouco desses sentimentos, mas também a relação de amor e asco, fascínio e repulsa que o autor mantém com a sua época e a cidade em que vive. O livro divide-se em cinco grandes temas (a criação, o desejo, o amor, o homem, a mente), que podem servir de inspiração para histórias de todo tipo e formato, bem comportadas, quadradas, redondas. Loyola deles extraiu uma mistura ácida de insólito e gozação, um pouco além ou aquém da realidade (a anã pré-fabricada, a irrefreável parideira), e flagrantes do caos urbano, em visão cínica e implacável: o gozo atrás das árvores, obscenidades para uma dona de casa. Mas há também lampejos de simpatia (em realidade simpatia e crueldade, um jogo sadomasoquista com a personagem) pelos sonhadores frustrados, quase sempre inofensivos, como no sarcástico "45 Encontros com Vera Fischer". Simpatia e sarcasmo se aguçam ainda mais quando trata do sonhador erótico que às mulheres de carne e osso prefere as mulheres irresistíveis das revistas pornográficas ("Anúncios Eróticos"). A fantasia superando a realidade, a fuga da vida, temas tão frequentes na obra do autor.

Era uma vez uma anã pré­-fabricada. Tinha cinquenta centímetros de altura. Os pais eram pessoas normais. A anã era anã porque desde pequena o pai batia na cabeça dela com a marreta. Batia e dizia: “Diminua, filhinha”. O sonho do pai era ter uma filha que trabalhasse no circo. E, se conseguisse uma anã, o circo aceitaria.
Assim, a menina não cresceu. Tinha as pernas tortas, a cabeça plana como mesa, os olhos esbugalhados: um globo, com as marretadas, chegara a sair. Desse modo o olho andava dependurado pelos nervos. Com o olho caído, a menina enxergava o chão – e enxergava bem. Nunca deu topadas.

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O absurdo da vida moderna em uma cidade grande encontra em Ignácio de Loyola Brandão um crítico cruel e impiedoso, com um humor agridoce que pode ser, no fundo, simpatia, condescendência ou a suprema forma de sarcasmo. Ou todas reunidas, batidas em liquidificador e bem misturadas. Pode ser. Cabeças de Segunda-feira, com as suas situações insólitas, suas frustrações e suas obscenidades, exprime um pouco desses sentimentos, mas também a relação de amor e asco, fascínio e repulsa que o autor mantém com a sua época e a cidade em que vive. O livro divide-se em cinco grandes temas (a criação, o desejo, o amor, o homem, a mente), que podem servir de inspiração para histórias de todo tipo e formato, bem comportadas, quadradas, redondas. Loyola deles extraiu uma mistura ácida de insólito e gozação, um pouco além ou aquém da realidade (a anã pré-fabricada, a irrefreável parideira), e flagrantes do caos urbano, em visão cínica e implacável: o gozo atrás das árvores, obscenidades para uma dona de casa. Mas há também lampejos de simpatia (em realidade simpatia e crueldade, um jogo sadomasoquista com a personagem) pelos sonhadores frustrados, quase sempre inofensivos, como no sarcástico “45 Encontros com Vera Fischer”. Simpatia e sarcasmo se aguçam ainda mais quando trata do sonhador erótico que às mulheres de carne e osso prefere as mulheres irresistíveis das revistas pornográficas (“Anúncios Eróticos”). A fantasia superando a realidade, a fuga da vida, temas tão frequentes na obra do autor.

Era uma vez uma anã pré­-fabricada. Tinha cinquenta centímetros de altura. Os pais eram pessoas normais. A anã era anã porque desde pequena o pai batia na cabeça dela com a marreta. Batia e dizia: “Diminua, filhinha”. O sonho do pai era ter uma filha que trabalhasse no circo. E, se conseguisse uma anã, o circo aceitaria.
Assim, a menina não cresceu. Tinha as pernas tortas, a cabeça plana como mesa, os olhos esbugalhados: um globo, com as marretadas, chegara a sair. Desse modo o olho andava dependurado pelos nervos. Com o olho caído, a menina enxergava o chão – e enxergava bem. Nunca deu topadas.

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