A Comédia Humana Vol. I

Disperso, prolífico, ambicioso, genial: Honoré de Balzac (1799-1850) foi, como ele mesmo dizia, mais que um romancista, um cronista de costumes. Seu maior projeto literário, A comédia humana, tomou vinte e um anos de sua vida e foi interrompido apenas com a morte prematura do autor, aos 51 anos.

Na imensa obra, Balzac pretendeu fazer um verdadeiro inventário da França no século XIX: costumes, negócios, casamentos, ciências, modismos, política, profissões, tudo entrava nesse imenso painel, costurado com maestria narrativa e exibido aos poucos em folhetins. Com tudo isso em mente, Balzac passou a dar a seus romances o caráter vivo de uma época. Assim, um personagem que é protagonista em um livro aparece em outro como coadjuvante; se há um personagem já ancião em um romance,  é possível conhecer sua juventude em outro; personagens reais entram nas histórias, e os imaginários frequentam teatros, restaurantes e passeios que todos franceses conheciam. E assim Balzac foi construindo todo o universo de A comédia humana, que a Biblioteca Azul reedita agora, com a publicação dos primeiros quatro volumes que compõem as Cenas da vida privada. A imensa obra veio a público no Brasil duas vezes, editada pela Globo de Porto Alegre e depois pela Globo Livros. A primeira, a partir de 1947 e a segunda, de 1992. Em ambas teve orientação, introduções de todos os romances e notas de Paulo Rónai, um dos maiores críticos literários do Brasil. Rónai dedicou 15 anos à organização de todo aparato de A comédia humana, que contou com 20 tradutores, 12 mil notas e prefácio para cada um dos 89 romances. Dada a dimensão da edição de Rónai, considerada uma das mais importantes fora da França, é compreensível que nenhuma outra editora tenha dado conta de refazê-la e a obra permaneceu por anos encontrada apenas em sebos ou recortada de seu contexto.
Obras que compõem A Comédia Humana Vol. 1: Estudos De Costumes – Cenas Da Vida Privada:

Ao “Chat-qui-pelote”: Publicada em 1830, sob o título de Glória e desgraça (em francês Gloire et malheur), esta novela retrata a evolução moral da filha de um comerciante de tecidos apaixonada por um pintor. A análise do arrefecer de uma grande paixão, com a admirável lição prática de psicologia amorosa dada pela duquesa de Carigliano à ingênua Augustina, revela a impossibilidade, para as almas burguesas, de conviver em pé de igualdade com um “gênio”. O choque de dois ambientes sociais dentro da história de um amor, eis um tema bem balzaquiano.
O baile de Sceaux: Em francês, Le Bal de Sceaux, é um estudo das transformações sociais durante a Restauração, sobre o tema da “soberba castigada”. O conde de Fontaine, um tipo respeitável da alta nobreza, tem uma filha, Emília, que recusa qualquer mérito a todos os não-fidalgos, e recebe um castigo cruel: descobre que o pretendente, rejeitado por ser plebeu, é, na realidade, um aristocrata de alta linhagem.
Memórias de duas jovens esposas: Iniciado em 1834, mas só publicado em 1841 em folhetim no jornal La Presse, Mémoires de deux jeunes mariées é um romance de cartas trocadas entre duas amigas, Luísa de Chaulieu, que “escolhe o amor”, e Renata de Maucombe, casada sem amor, e que acaba por encontrar alguma felicidade na harmonia do lar, no afeto do marido e dos filhos, na gravidez, no parto e na amamentação. Em seu primeiro casamento, Luísa é objeto, no segundo, sujeito da paixão: em ambos, esta, não cabendo dentro da forma que a sociedade lhe impõe, determina uma catástrofe.
A bolsa: Em francês, La Bourse, começa ainda nesse ambiente artístico de Paris já citado por Balzac em Ao “Chat-qui-pelote”; mas depressa apresenta o ateliê do pintor Hipólito Schinner e o apartamento de suas vizinhas, que será o cenário desta novela sobre “a pobreza escondida”.
Modesta Mignon: No começo de 1844, a condessa Eveline Hanska, viúva do conde Wenceslau e noiva de Balzac, conhecida como “A Estrangeira” imaginou este romance sobre uma jovem provinciana que se apaixona por um famoso poeta graças a seus versos, sem nunca o ter visto, e lhe confessa numa carta a sua admiração. Assediado por admiradoras, o poeta entrega displicentemente a missiva a seu secretário, pedindo-lhe que responda em seu nome. O secretário não somente enceta uma longa correspondência com a desconhecida, que guarda o anonimato, conquistando-a completamente para o poeta, mas chega a se apaixonar por ela. Surge, então, uma curiosa rivalidade entre os dois homens, quando a moça se revela uma das herdeiras mais ricas da província. Balzac publicou essa história sob o próprio nome, depois de umas leves emendas no Journal des Débats e pediu ao compositor Auber que fizesse a música da canção de Modesta.

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Disperso, prolífico, ambicioso, genial: Honoré de Balzac (1799-1850) foi, como ele mesmo dizia, mais que um romancista, um cronista de costumes. Seu maior projeto literário, A comédia humana, tomou vinte e um anos de sua vida e foi interrompido apenas com a morte prematura do autor, aos 51 anos. Na imensa obra, Balzac pretendeu fazer um verdadeiro inventário da França no século XIX: costumes, negócios, casamentos, ciências, modismos, política, profissões, tudo entrava nesse imenso painel, costurado com maestria narrativa e exibido aos poucos em folhetins. Com tudo isso em mente, Balzac passou a dar a seus romances o caráter vivo de uma época. Assim, um personagem que é protagonista em um livro aparece em outro como coadjuvante; se há um personagem já ancião em um romance,  é possível conhecer sua juventude em outro; personagens reais entram nas histórias, e os imaginários frequentam teatros, restaurantes e passeios que todos franceses conheciam. E assim Balzac foi construindo todo o universo de A comédia humana, que a Biblioteca Azul reedita agora, com a publicação dos primeiros quatro volumes que compõem as Cenas da vida privada. A imensa obra veio a público no Brasil duas vezes, editada pela Globo de Porto Alegre e depois pela Globo Livros. A primeira, a partir de 1947 e a segunda, de 1992. Em ambas teve orientação, introduções de todos os romances e notas de Paulo Rónai, um dos maiores críticos literários do Brasil. Rónai dedicou 15 anos à organização de todo aparato de A comédia humana, que contou com 20 tradutores, 12 mil notas e prefácio para cada um dos 89 romances. Dada a dimensão da edição de Rónai, considerada uma das mais importantes fora da França, é compreensível que nenhuma outra editora tenha dado conta de refazê-la e a obra permaneceu por anos encontrada apenas em sebos ou recortada de seu contexto.
Obras que compõem A Comédia Humana Vol. 1: Estudos De Costumes – Cenas Da Vida Privada:

Ao “Chat-qui-pelote”: Publicada em 1830, sob o título de Glória e desgraça (em francês Gloire et malheur), esta novela retrata a evolução moral da filha de um comerciante de tecidos apaixonada por um pintor. A análise do arrefecer de uma grande paixão, com a admirável lição prática de psicologia amorosa dada pela duquesa de Carigliano à ingênua Augustina, revela a impossibilidade, para as almas burguesas, de conviver em pé de igualdade com um “gênio”. O choque de dois ambientes sociais dentro da história de um amor, eis um tema bem balzaquiano.
O baile de Sceaux: Em francês, Le Bal de Sceaux, é um estudo das transformações sociais durante a Restauração, sobre o tema da “soberba castigada”. O conde de Fontaine, um tipo respeitável da alta nobreza, tem uma filha, Emília, que recusa qualquer mérito a todos os não-fidalgos, e recebe um castigo cruel: descobre que o pretendente, rejeitado por ser plebeu, é, na realidade, um aristocrata de alta linhagem.
Memórias de duas jovens esposas: Iniciado em 1834, mas só publicado em 1841 em folhetim no jornal La Presse, Mémoires de deux jeunes mariées é um romance de cartas trocadas entre duas amigas, Luísa de Chaulieu, que “escolhe o amor”, e Renata de Maucombe, casada sem amor, e que acaba por encontrar alguma felicidade na harmonia do lar, no afeto do marido e dos filhos, na gravidez, no parto e na amamentação. Em seu primeiro casamento, Luísa é objeto, no segundo, sujeito da paixão: em ambos, esta, não cabendo dentro da forma que a sociedade lhe impõe, determina uma catástrofe.
A bolsa: Em francês, La Bourse, começa ainda nesse ambiente artístico de Paris já citado por Balzac em Ao “Chat-qui-pelote”; mas depressa apresenta o ateliê do pintor Hipólito Schinner e o apartamento de suas vizinhas, que será o cenário desta novela sobre “a pobreza escondida”.
Modesta Mignon: No começo de 1844, a condessa Eveline Hanska, viúva do conde Wenceslau e noiva de Balzac, conhecida como “A Estrangeira” imaginou este romance sobre uma jovem provinciana que se apaixona por um famoso poeta graças a seus versos, sem nunca o ter visto, e lhe confessa numa carta a sua admiração. Assediado por admiradoras, o poeta entrega displicentemente a missiva a seu secretário, pedindo-lhe que responda em seu nome. O secretário não somente enceta uma longa correspondência com a desconhecida, que guarda o anonimato, conquistando-a completamente para o poeta, mas chega a se apaixonar por ela. Surge, então, uma curiosa rivalidade entre os dois homens, quando a moça se revela uma das herdeiras mais ricas da província. Balzac publicou essa história sob o próprio nome, depois de umas leves emendas no Journal des Débats e pediu ao compositor Auber que fizesse a música da canção de Modesta.

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