
A ideia de publicar as aulas inaugurais do Programa de Pós Graduação em Cartografia Social e Política da Amazônia (PPGCSPA) expressa uma iniciativa didática de se discutir trajetórias intelectuais e se expor debates teóricos entre professores convidados, de um lado, e o corpo docente e os respectivos discentes do referido Programa, de outro, objetivando reforçar o padrão de trabalho científico e a qualidade da formação acadêmica, assim como a orientação de artigos e dissertações produzidos pelos discentes ao
longo dos dois anos de duração do curso.
A aula inaugural da professora Heloísa Maria Bertol Domingues, diretora do MAST (Museu de Astronomia), abrindo o ano letivo, nos propicia recursos conceituais para refletir sobre as continuidades e descontinuidades dos trabalhos de pesquisa referentes à Amazônia.
Ela consiste numa fonte de inspiração para se repensar a história das ciências e dos saberes na amazônia. A história numa interlocução com a antropologia é apresentada como prática fecunda de pesquisa, nos propiciando meios de compreender com maior acuidade as transformações sociais que estão em jogo na Amazônia.
O livro se divide em duas partes: a aula inaugural em si e uma espécie de memorial da autora-palestrante. No início da aula inaugural, encontramos as falas de duas quebradeiras de coco-babaçu do Maranhão: Maria Nice Machado Aires e Querubina Silva Neta.
A presença das falas das duas anfitriãs possivelmente causa estranheza ao leitor acadêmico acostumado com estrutura científico-universitária típica.
O lugar de recepção da convidada foi ocupado por representantes de um saber tradicional que em muitos aspectos é silenciado pelo chamado “conhecimento ocidental”.
É necessário destacar que a transcrição das falas, apesar de aplicar a norma culta da língua portuguesa, conservou traços de oralidades tão ricos e característicos, para não dizer essenciais, dos povos tradicionais.
Povos que utilizam a oralidade não apenas como meio de transmissão de seus conhecimentos, mas como lugar de produção dos mesmos.
Assim, as falas das quebradeiras de coco ressaltam, de partida, a importância do lugar dos saberes tradicionais em contraste com o conhecimento científico-acadêmico.
