
A preocupação com o cuidado – ou care – tem marcado boa parte das sociedades contemporâneas, particularmente quando se pensa no envelhecimento populacional e se imagina um déficit de cuidados, dada a perspectiva de um número insuficiente de cuidadores para atender uma quantidade crescente de idosos dependentes.
Essa preocupação tem despertado um grande interesse em pesquisas e reflexões voltadas para questões relacionadas com o cuidado. Num balanço da literatura produzida sobre o tema, José de São José expõe o conjunto de questões que marcaram as análises em diferentes décadas.
As primeiras reflexões datam dos anos 80 e, nelas, o cuidado era pensado como uma relação unidirecional, na qual um cuidador ativo e independente cuidava de um ser passivo, dependente.
O cuidado era, assim, visto como uma relação de dependência em que o poder está nas mãos do cuidador, e aquele de quem se cuidava era tido como incapaz de atender suas próprias necessidades.
Esses primeiros estudos focalizavam o lado mais negativo da experiência do cuidado, principalmente os impactos financeiros e na saúde física e mental ocasionados por essa atividade. O estresse do cuidador era o objeto central da reflexão e pouca atenção era dada aos idosos ou aos outros segmentos da população tratados.
As pesquisas norte-americanas e aquelas realizadas no Reino Unido se debruçaram, sobretudo, na esfera privada – particularmente na esfera doméstica e familiar – enquanto que nos países escandinavos – considera o autor –, a esfera pública foi privilegiada pelas análises.
No primeiro caso, o trabalho, as relações familiares e de amor eram centrais e o protótipo do cuidador era a mulher de classe média, branca, na meia idade e fora do mercado de trabalho formal.
No segundo caso, o cuidado era visto, sobretudo, como um trabalho emocional, e o protótipo do cuidador era a mulher branca de classe operária; as pesquisas inspiradas nas teorias de gênero chamavam a atenção para a posição desvantajosa que essa mulher ocupava no mercado de trabalho.
