
Este trabalho se debruça sobre o centro da cidade de São Paulo naquilo que ele tem de contraditório e conflituoso, balizando-se pela contradição dominação/apropriação.
No nosso contexto de país do terceiro mundo, capitalista periférico, a metrópole de São Paulo expressa claramente esta condição e o seu centro reflete visivelmente essa condição.
A riqueza que a metrópole produz, quer se fazer representar pelo centro, assim como a pobreza (produzida contraditoriamente pela produção da riqueza) está no centro como forma de expressão da vida possível na metrópole.
Assim, para grande parcela da população pobre, o centro é lugar de moradia e principalmente, o centro é condição de sobrevivência, pois guarda características fundamentais (concentração de pessoas, oferta de trabalho, grande gama de serviços, etc.).
De um lado o centro tende e é tomado pelo poder hegemônico, estatal e privado, como um lugar da ordem, do poder, organizado para ser vitrine da “cidade mundial”, e para isso o Estado e atores privados promovem ações no sentido de torná-lo espaço de consumo de uma classe média alta, buscando afastar os pobres do centro, e por outro lado o centro ainda é o centro simbólico da cidade, para onde pessoas de todos os cantos da metrópole vão para fazer compras, passear, assistir a shows gratuitos, etc.
Fica explícita no centro, a contradição dominação/apropriação muito bem perseguida pela autora como meio de encontrar os conteúdos da urbanização contemporânea da metrópole.
Segundo a autora, o centro carrega uma característica central da vida urbana hoje, pois permite o uso sem exigir a permanência, sem deixar de ter espaços de referência, de duração, que permitem a criação de uma identidade com a cidade.
O centro contém, assim, formas e atividades que compõe a representação de cidade, nos dizeres da autora.
O centro comporta, com isso, as possibilidades abertas pela vida urbana, o sentido da reunião, da concentração de pessoas e funções, a potencialização do encontro das diferenças reunidas na cidade.
No entanto, com a industrialização invadindo a cidade e produzindo o que se chamou de implosão-explosão da cidade, ao mesmo tempo em que a cidade se espraia em imensas periferias, o centro se dilui por todo o tecido urbano.
Surgem novas centralidades espalhadas pela cidade, configurando uma cidade polinucleada, processo que, no entanto, não destitui o centro tradicional de seu sentido de centralidade, mas antes afirma o seu poder unificador e articulador das várias novas centralidades.
