
A História hegemônica de Sorocaba é resumida, até os dias de hoje, em como Baltazar Fernandes com suas boas intenções escolheu nossa terra para abrigar os seus e em como os bandeirantes e tropeiros, com sua importante missão de desbravar o país e fazer girar a economia da região sudeste, moldaram e fundamentaram a sociedade da cidade para que ela fosse o que é hoje.
Grandes nomes são gravados em viadutos e solenes bustos são erguidos em memória de personagens que, de forma ou outra, se destacaram em meio aos importantes acontecimentos históricos, como a fundação de Sorocaba, a instalação do pelourinho, a Revolução Liberal de 1842, a inauguração da Estrada de Ferro, entre muitos outros.
Ora, dessa História com “h” maiúsculo todo sorocabano já ouviu falar, contudo, parece ser mais complexo observar que costumes e relações necessitam da influência de muito mais do que apenas grandes figuras históricas. Carecem de convergências antepassadas, tradições, mitos, ditos e práticas vividos por pessoas que não são citadas nos livros de história das escolas e nem mesmo são lembrados por muitos educadores, pois esses também só conheceram a História de Sorocaba.
Não se lembra que ao “povoar” a terra rasgada Baltazar trouxe consigo em torno de 370 escravos indígenas a fim de que eles construíssem os Casarões, a igreja de Nossa Senhora da Ponte, o Mosteiro São Bento, a Fazenda Ipanema (Flona Ipanema), entre tantos outros patrimônios da cidade.
Não se lembra que o perfil econômico de Sorocaba se deu, não só pelas passagens anuais dos tropeiros em busca de comprar novas mulas na feira de muares, mas também, e principalmente, pelos moradores que, por não ter tanta terra fértil para plantar, nem outras opções agrícolas que não fossem o algodão, apostavam e se dedicavam todo o ano aos produtos artesanais que fabricavam e que venderiam na feira de Muares, possibilitando que alimentassem suas famílias.
Não se lembra tão pouco dos escravos africanos que serviram suas sinhás e seus senhores, preparando suas refeições, cuidando de seus filhos, limpando seus casarões, trabalhando em suas lavouras de algodão e, em frequentes casos, colocando fim à própria vida, provavelmente por não ter conseguido usufrui-la com liberdade.
