Trata-se, pois, de uma importante obra, uma vez que o teólogo-filósofo João Baconthorp ainda é pouquíssimo estudado no Brasil, não obstante ter dado uma grande contribuição nos debates relativos às questões filosófico-teológicas de seu tempo, em diálogo com grandes pensadores contemporâneos seus, os quais se fazem presente, ou são temas de capítulos específicos da obra aqui apresentada, ou como diz o próprio Emílio Wienk em sua introdução – onde é dissertada “a doutrina de João BACONTHORP, ao lado de outros autores” , notadamente acerca da relação entre a natureza e o suposto, ou qual a razão formal constitutiva do suposto, especialmente no Verbo encarnado – Cristo.
João Baconthorp Johannis Baconthorp ou Baconis – daí alguns se referirem a ele simplesmente como o Bacon, nasceu em Baconthorp, condado de Norfolk – Inglaterra, sendo, provavelmente, sobrinho do famoso filósofo franciscano Rogério Bacon. Ainda muito jovem, em 1305, ingressou na Ordem dos Carmelitas, onde prosperou e veio a exercer vários cargos e, uma vez formado em teologia/filosofia, pela Universidade de Paris, lecionou em várias instituições educacionais, dentre as quais nas Universidades de Cambridge e Oxford.
Por sua profícua produção intelectual, recebeu, ou ficaria conhecido, pelo cognome de Doctor Resolutus. Dentre seus escritos, destacam-se, um Commentaria seu quaestiones super quatuor libros sententiarum, três Quaestiones quodlibetales, a saber: 1. questões sobre Direito canônico; 2. comentários ao Evangelho de Mateus e 3. sobre as obras de Santo Agostinho e Santo Anselmo, e um Compendium legis Christi cum quodlibetis. Além de alguns comentários a Aristóteles.
Como teólogo, defendeu com firmeza o dogma católico da Imaculada Conceição, dentre outras questões teológicas. Como filósofo, debateu abertamente com seus contemporâneos, notadamente com Henrique de Gand, Duns Escoto e Pedro Auréolo e os companheiros carmelitas Gerardo de Bolonha, Guido Terreni e Roberto Walsingham, dentre outros, os quais o acusavam de averroismo, tanto é que séculos depois de seu falecimento chegou a ser chamado de “príncipe dos averroístas” [princeps averroistarum], pelos mestres da Universidade de Pádua – Itália.
