Ove tem cinquenta e nove anos e não gosta muito das pessoas. Afinal, hoje em dia ninguém mais sabe trocar um pneu, escrever à mão ou usar uma chave de fenda. Ninguém mais quer trabalhar e assumir responsabilidades. Todo mundo é jovem, usa calça justa e só quer saber de internet. Para Ove, uma sociedade em que tudo se resume a computadores e café instantâneo só pode decepcioná-lo.
Como se isso não bastasse, a única pessoa que ele amava faleceu. Sem sua esposa, a vida de Ove perdeu a cor e o sentido. Meses depois, ele toma uma decisão: vai dar fim à própria vida. No entanto, cada uma de suas tentativas é frustrada por algum vizinho incompetente que precisa de ajuda. Mas, quando uma estranha família se muda para a casa ao lado, Ove aos poucos passa a encarar o mundo de outra forma.
Um romance comovente que mostra como amor e bondade podem ser encontrados nos lugares mais inesperados.
Ove está diante do balcão naquele tipo de loja a que as pessoas que têm carros japoneses vão para comprar cabos de cor branca. Ove observa o vendedor um bom tempo, antes de sacudir uma caixa branca de papelão de tamanho médio na direção dele.
— Ah! Isso aqui é um daqueles Aipedes? — ele faz questão de saber.
O vendedor, um rapaz com IMC de um só algarismo, olha para Ove constrangido. É visível que está lutando contra o impulso de tomar imediatamente a caixa das mãos do cliente.
— Isso mesmo. Um iPad. Mas será que dá para você parar de sacudir ele pra lá e pra cá assim…?
Ove observa a caixa como se ela não fosse nada confiável. Como se a caixa andasse de scooter, usasse calça de ginástica, tivesse acabado de chamá-lo de “cara” e depois tentado vender um relógio para ele.
— O.k. Mas isso é um computador, certo?
O vendedor faz que sim com a cabeça. Depois fica na dúvida e faz que não.
— É… mas então, isso é um iPad. Alguns chamam de tablet e outros chamam de “tabuleta de navegação”. Tem vários jeitos de entender um aparelho desses…
Ove encara o vendedor como se ele estivesse falando grego, antes de recomeçar a sacudir a caixa.
— Mas esse troço presta mesmo?
O vendedor concorda com a cabeça, indeciso.
— Presta. Mas… como assim?