Como se reconhece um sociólogo? O critério é quase operacional: quem cita Marx, Weber e Durkheim é, por convenção, sociólogo ou socióloga, pois, se a sociologia volta e sempre precisa voltar aos seus clássicos é, sem duvida, porque é assim que ela constrói a sua unidade e a sua coerência.
Vejam Parsons nos anos 30, Merton nos anos 50, Habermas nos anos 70 ou Giddens e Bourdieu nos anos 80. A mistura fina dos clássicos pode variar – um pouco mais de Durkheim e um pouco menos de Marx, ou vice-versa. As referências canônicas podem mudar – quem ainda lê Herbert Spencer? Quem ainda não redescobriu a obra de Georg
Simmel? –, mas o que tem ficado invariável nas transformações é a reverência aos “velhos” e a necessidade de se apoiar na tradição para inovar e regenerar a disciplina.
De fato, a reinterpretação contínua dos clássicos durante um século só tem reforçado a tendência a dar um passo atrás para, em seguida, dar dois passos à frente.
Seguindo a decomposição do marxismo como filosofia da história crível, novas figuras entraram em jogo nos anos 80. Bourdieu, Giddens, Habermas e Luhmann, eis os autores introduzidos nos cursos de teoria sociológica contemporânea, entronizados como protagonistas do “novo movimento teórico” que poderíamos até chamar, com certa ironia, para nos distanciarmos da alta escolástica da agência e da estrutura, de “sociologia neoclássica”.
Como os seus predecessores, eles também produziram suas teorias através de uma recombinação fotossintética dos clássicos. Temos a impressão de que a sociologia entrou na “era dos epígonos”.
Não que não haja nada de novo, mas mesmo o novo (como a teoria do ator-rede, por exemplo), se veste de velhas roupagens (a neomonadologia de Gabriel Tarde e os devires rizomáticos de Gilles Deleuze).
Hoje em dia, com a assunção fulgurante da hegemonia de Pierre Bourdieu na ultima década, o campo da sociologia internacional pode ser divido em uma grande linha, isto é, entre bourdieusianos e antibourdieusianos – com uma linha de fuga importante formada pelos pós-bourdieusianos, tais quais Luc Boltanski, Margaret Archer e Bernard Lahire, que, não por acaso, estão no cerne desse livro.
Além Do Habitus: Teoria Social Pós-Bourdieusiana
- Ciências Sociais, Filosofia
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