Publicada pela primeira vez em 1952, A vida de Lima Barreto, de Francisco de Assis Barbosa, não perde a atualidade e a importância. Além de oferecer o que se espera de uma biografia, o relato completo da vida do homenageado, tendo como pano de fundo a história da cidade em que viveu, é extremamente bem escrito.
Longe de ser a análise em profundidade que está a pedir uma figura complexa como a de Lima Barreto, este livro talvez um pouco extenso não passa, na verdade, de singela narrativa biográfica, entremeada de alguns episódios da vida brasileira, mais de perto relacionados com o autor do Triste fim de Policarpo Quaresma.
Não tenho pretensões a crítico literário, nem me julgo tão conhecedor da psicologia humana, qualidades que me parecem indispensáveis a quem se aventura a interpretar, em livro definitivo, o drama de um grande escritor. Bem mais modesto foi o meu intento. Repórter que tem feito do jornalismo diário o seu ganha-pão, tratei apenas de aproveitar, com a máxima honestidade, o material a mim confiado pela família do escritor, quando o editor Zélio Valverde, por volta de 1945, me incumbiu de organizar as Obras completas de Lima Barreto.
Além dos livros publicados em vida do autor, da novela Clara dos Anjos e dos artigos de jornal (estes mandados copiar, na sua quase totalidade, de jornais e revistas da época, pelo escritor R. Magalhães Júnior), o empreendimento editorial, infelizmente malogrado, incluía um apreciável contingente de manuscritos inéditos, a saber: o Cemitério dos vivos, romance apenas iniciado; os fragmentos do Diário íntimo e a correspondência de Lima Barreto, correspondência ativa e passiva, num total de aproximadamente trezentas cartas e bilhetes.
Fiquei assim de posse de vasto material – manuscritos, notas, trechos esparsos do Diário íntimo, cartas, cadernos de recortes de jornal, documentos enfim de vária natureza, que constituem hoje a Coleção Lima Barreto, incorporada à Seção de Manuscritos da Biblioteca Nacional.
Pertencendo Lima Barreto à categoria dos escritores que mais se confessam através de suas obras, conforme já observou Astrojildo Pereira, e tendo o próprio romancista dito certa vez que tudo o que escrevia eram capítulos das suas memórias, completei a arrumação do trabalho, dispondo em ordem cronológica as suas confissões e, sempre que pude, com as palavras mesmas do escritor.