O engajamento político, mais do que simplesmente um problema ou uma conduta, é um fenômeno cuja investigação é muito cara aos filósofos Jean-Paul Sartre e Albert Camus. Desde a década de 1930, em que ambos dão os primeiros passos em suas trajetórias filosóficas, as questões da condição humana, da liberdade individual frente aos outros e à história e da dimensão ético-política da ação são, para não dizer cruciais, no mínimo latentes em seus textos.
No período de maturidade, essas questões aparecem, sob a rubrica conceitual do engajamento político, como polo central das reflexões dos dois autores; tanto é que no início dos anos 1950 ela representará o motivo maior do rompimento entre ambos.
É precisamente tal rompimento, ocorrido nas entranhas da tensão mundial da Guerra Fria, que ilumina a peculiaridade do par Sartre-Camus no que diz respeito à concepção de engajamento político: o propósito desta pesquisa é mostrar que há entre os dois autores proximidades e distanciamentos teóricos responsáveis desde cedo pela polêmica que viria a tornar suas filosofias projetos entre si conflituosos.
De certa forma, ecoamos a conclusão de Sartre em sua carta de rompimento a Camus em 1952: “muitas coisas nos aproximavam, poucas nos separavam. Mas esse pouco já era muito”. Trata-se, afinal, de dois pensadores cujas propostas éticas e políticas, se bem que apresentem alguns paralelos, encerram também, às vezes disfarçados pela sutileza dos termos e pelas referências indiretas, pontos de discordância radical.
Isso porque os projetos filosóficos de Sartre e de Camus, embora inscritos no mesmo índice histórico-filosófico – o do pensamento existencialista francês – e orientados a um propósito prático comum – a compreensão das exigências éticas e, sobretudo, políticas do século XX europeu – são autônomos, e independem um do outro. Queremos destacar os compromissos e os impasses que distinguem esses projetos.
Para tanto, é preciso imergir nas reflexões filosóficas dos autores a partir de seus respectivos fios condutores conceituais: a contingência e o absurdo, a liberdade e a revolta, o engajamento formatado numa práxis revolucionária e aquele tensionado com uma ideia de limite.