Flávio Gonçalves Dos Santos – Economia E Cultura Do Candomblé Na Bahia

Este livro resulta de uma tese de doutorado na área de História Econômica. Essa informação, abrindo o prefácio, já poderia afastar muitos dos seus possíveis leitores, sob a alegação de constituir um texto de interesse apenas dos especialistas.


No entanto, logo de início, a leitura de Economia e Cultura do Candomblé na Bahia: o comércio de objetos litúrgicos afro-brasileiros 1850/1937 contraria essa primeira impressão, pois seu autor conjuga os conhecimentos metodológicos necessários a esse campo da historiografia com a arte da narrativa, o que torna o livro atraente mesmo para aqueles que não têm nenhum interesse específico pelos aspectos econômicos da História.
A partir de uma abordagem que vê a economia de forma integrada à totalidade social, Flávio Gonçalves dos Santos destaca os aspectos culturais presentes nas trocas comerciais envolvendo produtos utilizados no culto aos orixás, realizadas entre o Brasil e a África. Por isso, além de constituir importante contribuição para sua área específica, este livro pode ser lido com prazer por todos os que se interessam pela história de nosso país, particularmente por nossa herança africana.
Lucien Febvre, um dos fundadores da École des Annales, movimento que, como afirmou Peter Burke, provocou uma verdadeira revolução nos estudos históricos contemporâneos, aconselhou os historiadores, em uma palestra dirigida aos recém ingressos no ofício, a viver a vida antes de mergulhar no passado.
A vida intelectual, certamente, e em toda a sua variedade, pois, para Febvre, a História deveria incorporar os ensinamentos da Geografia, da Sociologia, da Antropologia, da Psicologia. E a interdisciplinaridade foi uma das mais importantes marcas dos Annales. Mas, também, que tivessem uma vida prática, comprometida com as questões de seu tempo. Para ele, não deveria haver barreiras entre ação e pensamento, entre a vida do homem e a do historiador.
No livro de Flávio Gonçalves dos Santos podemos ouvir o eco dessas lições. Em primeiro lugar, porque o autor remete seu interesse pelo tema às vivências da infância.
Filho da Bahia, nascido em uma família adepta do candomblé, foi participando do culto aos orixás que percebeu, ainda menino, a importância do comércio de objetos litúrgicos nessa religião, cujas oferendas rituais exigem grande quantidade e diversidade de produtos que dependem de conhecimentos específicos para serem comprados e utilizados corretamente.
E a referência a essa origem e à sua fé em um trabalho acadêmico tem a dimensão de um posicionamento político a favor da liberdade religiosa, nesses tempos marcados pelo recrudescimento da intolerância contra as religiões afro-brasileiras, que vem acompanhando o crescimento do neopentecostalismo no Brasil.

  

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Flávio Gonçalves Dos Santos – Economia E Cultura Do Candomblé Na Bahia

Este livro resulta de uma tese de doutorado na área de História Econômica. Essa informação, abrindo o prefácio, já poderia afastar muitos dos seus possíveis leitores, sob a alegação de constituir um texto de interesse apenas dos especialistas.
No entanto, logo de início, a leitura de Economia e Cultura do Candomblé na Bahia: o comércio de objetos litúrgicos afro-brasileiros 1850/1937 contraria essa primeira impressão, pois seu autor conjuga os conhecimentos metodológicos necessários a esse campo da historiografia com a arte da narrativa, o que torna o livro atraente mesmo para aqueles que não têm nenhum interesse específico pelos aspectos econômicos da História.
A partir de uma abordagem que vê a economia de forma integrada à totalidade social, Flávio Gonçalves dos Santos destaca os aspectos culturais presentes nas trocas comerciais envolvendo produtos utilizados no culto aos orixás, realizadas entre o Brasil e a África. Por isso, além de constituir importante contribuição para sua área específica, este livro pode ser lido com prazer por todos os que se interessam pela história de nosso país, particularmente por nossa herança africana.
Lucien Febvre, um dos fundadores da École des Annales, movimento que, como afirmou Peter Burke, provocou uma verdadeira revolução nos estudos históricos contemporâneos, aconselhou os historiadores, em uma palestra dirigida aos recém ingressos no ofício, a viver a vida antes de mergulhar no passado.
A vida intelectual, certamente, e em toda a sua variedade, pois, para Febvre, a História deveria incorporar os ensinamentos da Geografia, da Sociologia, da Antropologia, da Psicologia. E a interdisciplinaridade foi uma das mais importantes marcas dos Annales. Mas, também, que tivessem uma vida prática, comprometida com as questões de seu tempo. Para ele, não deveria haver barreiras entre ação e pensamento, entre a vida do homem e a do historiador.
No livro de Flávio Gonçalves dos Santos podemos ouvir o eco dessas lições. Em primeiro lugar, porque o autor remete seu interesse pelo tema às vivências da infância.
Filho da Bahia, nascido em uma família adepta do candomblé, foi participando do culto aos orixás que percebeu, ainda menino, a importância do comércio de objetos litúrgicos nessa religião, cujas oferendas rituais exigem grande quantidade e diversidade de produtos que dependem de conhecimentos específicos para serem comprados e utilizados corretamente.
E a referência a essa origem e à sua fé em um trabalho acadêmico tem a dimensão de um posicionamento político a favor da liberdade religiosa, nesses tempos marcados pelo recrudescimento da intolerância contra as religiões afro-brasileiras, que vem acompanhando o crescimento do neopentecostalismo no Brasil.

  

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