
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: “Navegar é preciso, viver não é preciso”.
Quero para mim o espírito [d]esta frase, transformada a forma para casar com quem eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais penso assim. Cada vez mais ponho na essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo de nossa raça.
Fernando Pessoa foi filósofo, escritor e poeta português. Nasceu em Lisboa, em 1888, e estudou na África do Sul em uma escola católica irlandesa.
O poeta teve uma vida discreta e solitária; morreu em 1935, vítima de uma cirrose hepática. Fernando Pessoa publicou apenas quatro obras, três delas em inglês. O escritor traduziu do inglês para o português vários outros livros, como obras de Shakespeare e Edgar Allan Poe.
Pessoa também criava e publicava através de heterônimos, como Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro. Essa complexidade acabou sendo objeto da maior parte dos estudos sobre a sua vida e obra.
Robert Hass, poeta americano, diz: “Outros modernistas como Yeats, Pound, Elliot inventaram máscaras pelas quais falavam ocasionalmente. Pessoa inventava poetas inteiros.”
Mestre da poesia, Fernando Pessoa mostrou muito pouco de seu talento em vida. Foi na época em que colaborava com a revista “Presença”, que sustentava a liberdade de expressão e apregoava a emoção estética como o real objetivo do Movimento Modernista.
Além das representações poéticas dos heterônimos, há os poemas de Fernando Pessoa, ele mesmo, como “O Nada que é Tudo”, ou ainda, os versos da “Autopsicografia” que enunciam o mistério da criação poética que ele próprio sentiu.











