Desde 2008, o Brasil ocupa o lugar de maior consumidor de agrotóxicos do mundo.
Os impactos na saúde pública são amplos, atingem vastos territórios e envolvem diferentes grupos populacionais, como trabalhadores em diversos ramos de atividades, moradores do entorno de fábricas e fazendas, além de todos nós, que consumimos alimentos contaminados.
Tais impactos estão associados ao nosso atual modelo de desenvolvimento, voltado prioritariamente para a produção de bens primários para exportação.
Com este dossiê, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) visa a alertar, por meio de estudos científicos, as autoridades públicas nacionais, internacionais e a sociedade em geral para a necessidade de políticas que possam proteger e promover a saúde humana e os ecossistemas.
Trata-se também de uma manifestação da Abrasco, entidade que nasceu no contexto das lutas sociais pela redemocratização do Brasil e está comprometida com a emancipação dos sujeitos e a conquista de modos de vida mais saudáveis.
Ao registrar e difundir a preocupação de pesquisadores, professores e profissionais da saúde coletiva com a escalada no uso de agrotóxicos no país e na contaminação do ambiente e das pessoas, com severos impactos sobre a saúde pública, a Abrasco expressa o seu compromisso com a saúde da população, no contexto de reprimarização da economia, da expansão das fronteiras agrícolas para a exportação de commodities, da afirmação do modelo da modernização agrícola conservadora e da monocultura químico-dependente.
Soja, cana-de-açúcar, algodão, milho e eucalipto são exemplos de cultivos que vêm ocupando cada vez mais terras agricultáveis, para alimentar prioritariamente o ciclo dos agrocombustíveis, da produção de carne em outros países, da celulose ou do ferro-aço, e não as pessoas, ao tempo em que avançam sobre biomas como o cerrado e Amazônia, impondo limites à produção de alimentos pela agricultura familiar camponesa e ao modo de vida que se constitui em torno desta produção.
Somente soja, cana-de-açúcar, milho e algodão foram responsáveis por 80% dos agrotóxicos consumidos no Brasil em 2013.