
A história dos absurdos se repete. Apenas três anos e dois meses após o rompimento da Barragem do Fundão em Mariana, vive-se o mesmo do mesmo, mais uma tragédia, mais um crime contra a humanidade.
Dessa vez derramou-se 12 milhões de m³ de rejeitos em toda a extensão da Bacia do Rio Paraopeba, destruindo centenas de hectares de Mata Atlântica, comprometendo a qualidade da água e devastando a biota aquática de 250 quilômetros de extensão do rio, um dos principais afluentes do Velho Chico.
O Paraopeba compõe parte dos sistemas de abastecimento de água potável da Região Metropolitana de Belo Horizonte e a captação da COPASA em seu leito teve que ser desativada.
Todo o Brasil e o mundo acompanharam atônitos a mudança radical na vida e na paisagem do Córrego do Feijão, uma comunidade rural pertencente ao distrito sede de Brumadinho.
Este livro, antes de qualquer coisa revela o cuidado e o carinho, quase passional, com que os nossos autores se dedicaram a este mister, um importante instrumento revelador da competência dos professores e do talento dos alunos.
Tão logo tive a oportunidade de ler os trabalhos, passei a escrever as primeiras linhas deste prefácio com uma forte emoção proveniente da narrativa e da sensibilidade de todos na realização desta obra.
Da metodologia inserida na consciência instrumental da produção acadêmica no contexto de cada um dos artigos, ora com foco no dano moral sofrido por aqueles que perderam seus entes queridos, ora com abordagem na responsabilidade civil pelo dano material causado aos acionistas da empresa responsável pelo dano, ora finalizando no estudo da sucessão hereditária das vítimas, mostrando que, infelizmente, o calvário dos filhos, pais e irmãos ainda vai perdurar por anos, ainda podemos ver as considerações traçadas para o alcance da responsabilidade criminal das pessoas que respondem pelo ilícito provocado, até chegarmos ao último trabalho, que se inicia com uma bela e triste poesia e se encerra com uma história de gente humilde e sofrida, tal qual o passarinho que perdeu seu ninho e a esperança em ver de novo o Córrego do Feijão, as águas do Paraopeba e as matas de Brumadinho.
Enfim, os artigos são bem escritos e revelam com conhecimento jurídico o retrato de uma tragédia anunciada.
