A empresa ganhava dinheiro como nunca em seus 89 anos de existência, mas Julio de Mesquita Filho andava apreensivo. Ele acabara de completar 72 anos em fevereiro de 1964 e precisava preparar sua sucessão no cargo de diretor-responsável de O Estado de S. Paulo, o maior jornal do país.
A tradição familiar garantia ao primogênito o cargo principal. Assim havia sido com ele, primeiro filho homem de Julio Mesquita e de Lucila de Cerqueira César. Herdara o nome do pai e a primazia de sucedê-lo e nada mudara esse destino ao longo dos anos. Nem mesmo o nascimento de outro menino, 14 meses depois, batizado Francisco, que também demonstrara interesse pelos negócios da família.
Os dois irmãos haviam crescido muito unidos e isso facilitara a sucessão. Na hora de começar a trabalhar, Julinho fora cumprir seu destino na redação e Chiquinho preferira a área administrativa. Após a morte de Julio Mesquita, em 1927, os dois redesenharam o modelo de gestão do jornal. Doutor Julinho, como passaria a ser chamado pelos funcionários, seria responsável pelo conteúdo editorial. Doutor Chiquinho cuidaria dos negócios.
O tempo provou que a decisão fora acertada. Sob a direção do doutor Julinho, O Estado de S. Paulo se transformou no jornal mais influente do Brasil, ativo que o doutor Chiquinho soube capitalizar para transformá-lo também num dos mais ricos. Em 37 anos, O Estado de 30 mil exemplares e dezesseis a vinte páginas que os irmãos haviam herdado crescera para 280 mil exemplares e cerca de 150 páginas por edição, boa parte delas recheada com os classificados inventados pelo doutor Chiquinho.
Fora dele a ideia, em 1934, de abrir espaço para anúncios cobrados por linha e de criar escritórios comerciais nas principais capitais para vendê-los. Os lucros extraordinários da ideia haviam sido multiplicados com investimentos em novas rotativas. A empresa crescera e construíra uma sede mais ampla e mais moderna na rua Major Quedinho, no centro de São Paulo. Em 1964, a situação financeira era confortável, mas isso não diminuía a angústia do doutor Julinho.
Jornal Da Tarde: Uma Ousadia Que Reinventou A Imprensa Brasileira
- Comunicação, História
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